São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para empresas, lucro resiste a bagunça

PALMEIRAS E JUVENTUDE
DA REPORTAGEM LOCAL, DA AGÊNCIA FOLHA E DAS REGIONAIS

Os patrocinadores dos clubes da Série A do Campeonato Brasileiro apontam a desorganização -principalmente a ausência de um calendário planejado- como a principal característica estrutural do futebol nacional.
Mas esses percalços não impedem que o negócio do patrocínio seja anunciado como rentável.
Conheça abaixo a opinião de 16 das 18 empresas que patrocinam equipes no Campeonato Brasileiro. Elas representam 19 dos 26 clubes da Série A.
Bragantino, Atlético-PR, Paraná e Vasco da Gama não tinham patrocinador até sexta-feira, quando foi concluído o levantamento.
A Energil-C (Cruzeiro) e a Hyundai (Botafogo e Bahia) não quiseram responder à pesquisa realizada pela Folha, formada pelas seguintes perguntas:
1. Quando começou o patrocínio? Qual é a duração do contrato?
2. Qual é o valor, anual ou mensal, de patrocínio?
3. Qual tipo de acordo está em vigor (patrocínio, co-gestão, participação na venda de jogadores)?. O que abrange o patrocínio?
4. Que retorno a empresa já teve neste contrato? O que ainda espera obter com ele no futuro?
5. O que a empresa pensa sobre a situação atual do futebol brasileiro? A situação desestimula o patrocinador a continuar no futebol?
6. O que é mais importante, o Campeonato Brasileiro ou o Estadual?
7. Liste, em ordem de importância, o que deveria ser mudado ou implantado no futebol nacional:
a) calendário predeterminado de jogos;
b) lista prévia dos jogos da TV;
c) menos partidas transmitidas pela televisão;
d) profissionalização dos dirigentes do esporte;
e) campeonatos mais curtos.
8. Aconselharia outras a patrocinar equipes de futebol? Por quê?
Leia a seguir as respostas das empresas. No quadro ao lado, as conclusões da pesquisa.
*
APLUB (Inter-RS)
Previdência privada
1. Desde 1995. Um ano.
2. Não responde.
3. Patrocínio, de camisetas e publicidade estática no estádio.
4. Retorno de imagem. O objetivo principal é fixar a marca institucional da Aplub em todo o país.
5. Não quer se meter em assuntos de política esportiva.
6. O Brasileiro.
7. Não respondeu.
8. Depende do produto, do objetivo, dos valores envolvidos na negociação e da estratégia.
ARISCO (Goiás)
Alimentos
1. Desde julho desde ano. Válido até o final da primeira fase do Brasileiro, em novembro.
2. Não tem valor fixo.
3. Patrocínio, no uniforme.
4. Não sabe, porque não tem experiência em patrocinar esportes coletivos. Não tem. A empresa patrocina o clube porque ambos são da mesma cidade.
5. Não sabe.
6. O Brasileiro, porque divulga mais a marca.
7. Não sabe.
8. Não sabe.
BOMBRIL (São Paulo)
Limpeza/Alimentos
1. Foi estabelecido há 20 dias. Contrato de três anos com prioridade de renovação por mais três.
2. US$ 4 milhões por ano, pelo câmbio comercial. Extras em caso de conquistas de campeonatos.
3. Patrocínio no uniforme de todas as equipes masculinas de futebol (das femininas, não), publicidade estática no estádio, no Centro de Treinamento e na revista do São Paulo. No ano que vem, a marca estampada na camisa deverá ser a Cirio, outro braço da holding Cragnotti & Partners.
4. Não existe retorno ainda. O objetivo é a fixação da logomarca. O esporte tem importância na mídia e o futebol é o líder dos esportes no Brasil.
5. Vêm com otimismo. O Brasil é o celeiro de jogadores do mundo, o que atrai interesse internacional pelos campeonatos do país e aumenta a exposição na mídia. Isso não vai mudar. Não há desânimo.
6. Ambos são importantes.
7. 1º) calendário predeterminado de jogos.
8. Sim.
BROTHER (Guarani)
Indústria eletrônica
1. Há um ano. Um ano.
2. Não respondeu.
3. Patrocínio da camisa e publicidade estática no estádio.
4. Retorno de fixação da marca. Não sabe quanto, mas o patrocínio divulgou a marca nacionalmente.
5. Os clubes são mal-estruturados, os dirigentes não sabem o que é um contrato de patrocínio. Os dirigentes não tentam provar que o futebol dá retorno. Já teve problemas com o Guarani, mas conseguiu contornar.
6. O Brasileiro, que dá mais retorno de mídia e custa o mesmo que o Paulista.
7. 1º) calendário predeterminado de jogos;
2º) profissionalização dos dirigentes do esporte;
3º) lista prévia dos jogos da TV;
4º) campeonatos mais curtos;
5º) menos partidas transmitidas pela televisão.
8. Depende. Primeiro deve-se avaliar se é um bom negócio.
CECRISA (Criciúma)
Indústria cerâmica
1. 1995. Três anos.
2. Não respondeu.
3. Patrocínio no uniforme e publicidade estática no estádio.
4. Retorno institucional no país e na comunidade (a sede da Cecrisa é em Criciúma).
5. Desorganizado. Sim.
6. O Brasileiro, pela projeção dada à marca.
7. 1º) calendário predeterminado de jogos;
2º) lista prévia dos jogos da TV.
8. Sim, porque ainda é uma das melhores maneiras de se divulgar uma marca.
DESTAQUE PROMOÇÕES
(América-RN), Turismo
1. Uma semana. Até dezembro. Se aparecer um patrocinador melhor, o contrato com a Destaque será rescindido (acordo previsto em cláusula). A empresa pertence a diretores do América-RN.
2. R$ 40 mil por mês.
3. Patrocínio no uniforme e publicidade estática no campo de treino.
4. A divulgação da marca em nível nacional. Vender pacotes para turistas para o Carnatal.
5. Não respondeu. Não. Diz que é muito gratificante e estimulante ver o América-RN na Série A do Campeonato Brasileiro.
6. O Brasileiro.
7. 1º) calendário predeterminado de jogos;
2º) menos partidas transmitidas pela televisão;
3º) lista prévia dos jogos da TV;
4º) profissionalização dos dirigentes do esporte.
8. Sim, para as empresas que pretendem se aproximar do público jovem, pois é uma excelente estratégia de marketing.
EPROTEL (União São João)
Telecomunicações
1. 1996. Um ano.
2. Não respondeu.
3. Patrocínio na camisa e publicidade no estádio e em folhetos do clube.
4. Retorno de fixação de imagem. Expansão dos negócios por todo o Mercosul.
5. Existe gente séria e gente não-séria. Não há desestímulo.
6. O Brasileiro, que dá oportunidade de aparecer muito mais.
7. 1º) profissionalização dos dirigentes do esporte;
2º) lista prévia dos jogos da TV;
3º) calendário predeterminado de jogos;
4º) campeonatos mais curtos;
5º) menos partidas transmitidas pela televisão.
8. Sim, embora seja um negócio meio arriscado, por causa de três ou quatro pessoas ruins que existem no futebol.
EXCEL ECONÔMICO
(Corinthians e Vitória), Banco
1. Há sete meses. Dois anos.
2. R$ 5 milhões por ano (Corinthians) e R$ 2 milhões (Vitória).
3. Co-gestão, em ambos os casos, com compra de jogadores para colocar nos clubes ou em parceria com eles. Patrocínio no uniforme e publicidade estática no estádio e no centro de treinamento.
4. Em retorno de mídia, já superou o investimento em jogadores (R$ 26,2 milhões). O objetivo é aumentar o ritmo de crescimento do número de correntistas, que está em quase 40 mil por mês. Aumentar a venda de produtos de afinidade (caderneta de poupança, cheque especial etc.).
5. Há um descompasso entre a mobilização que ele gera e o seu tamanho como atividade econômica. A abordagem do futebol ainda é amadora. Mas, mesmo diante desse quadro, o retorno de investimento não tem igual. Em função da desorganização, os clubes cobram menos do que poderiam.
6. Ambos (Corinthians); O Brasileiro (Vitória). Depende do mercado de cada Estado.
7. 1º) calendário predeterminado de jogos;
2º) campeonatos mais curtos;
3º) profissionalização dos dirigentes do esporte;
4º) lista prévia dos jogos da TV;
5º) menos partidas transmitidas pela televisão.
8. Sim.
OCEÂNICA (Fluminense)
Companhia de seguros
1. Um mês. Cinco anos.
2. R$ 4 milhões/ano.
3. Patrocínio do uniforme. Envolve divulgação da marca em placas publicitárias e no uniforme da equipe. Prevê a possibilidade de oferecer produtos aos associados do Fluminense.
4. Retorno de imagem no mercado. O objetivo é atingir público jovem e divulgar a marca entre os torcedores do clube (9 milhões, segundo a seguradora).
5. Encara com muito otimismo o futuro do futebol, que deve acontecer por meio da reformulação do esporte, criação de ligas e profissionalização de dirigentes.
6. Ambos são importantes.
7. 1º) calendário predeterminado de jogos;
2º) profissionalização dos dirigentes do esporte;
3º) lista prévia dos jogos da TV;
4º) campeonatos mais curtos;
5º) menos partidas transmitidas pela televisão.
8. Recomenda, com certeza. As empresas que têm potencial econômico deveriam pensar em investir no futebol.
PARMALAT Alimentos

1. 1992 (Palmeiras) e 1994 (Juventude). Ambos os clubes têm contratos de três anos. O próximo contrato do Palmeiras, quase assinado, será de quatro anos.
2. R$ 5 milhões/ano (Palmeiras) e R$ 500 mil ano (Juventude).
3. Co-gestão, com compra de jogadores para os clubes ou em parceria com eles. Patrocínio no uniforme e publicidade estática no estádio e no centro de treinamento.
4. Para a Parmalat, só houve retorno institucional. O crescimento do mercado dessa marca no Brasil não teria nenhuma relação com o futebol. No início, a Parmalat se associou ao Palmeiras apenas por paixão. Ela não via o patrocínio como um negócio.
5. Só o calendário causa desânimo. Os clubes devem virar empresas. As leis do esporte devem ser revistas. O anteprojeto da lei Pelé tem muitos pontos obscuros.
6. Ambos são importantes.
7. 1º) calendário predeterminado de jogos;
2º) lista prévia dos jogos da TV;
3º) campeonatos mais curtos;
4º) profissionalização dos dirigentes do esporte;
5º) menos partidas transmitidas pela televisão.
8. Sim. Quanto mais empresas no esporte melhor para todo mundo.
PETROBRÁS (Flamengo)
Empresa petrolífera
1. Há 13 anos. Até o fim de 1999.
2. R$ 3,1 milhões por ano.
3) Patrocínio, colocando as marcas Petrobrás, Lubrax e BR no uniforme de todos as equipes, profissionais ou amadoras, de todos os esportes. Instalação de placas de publicidade no ônibus do clube, em pontos da sede social, como o campo de treino, o ginásio de esportes e a torre do toboágua.
4. Retorno de mídia espontânea. Associação de imagem com o clube de maior torcida em todo o Brasil, que tem destaque também no exterior.
5. O maior problema é a desorganização. Mas, mesmo com a situação atual, ainda traz retorno ao investimento, pois o futebol é o esporte mais popular do Brasil.
6. O Brasileiro.
7. 1º) profissionalização dos dirigentes do esporte;
2º) calendário predeterminado de jogos;
3º) lista prévia dos jogos da TV;
4º) campeonatos mais curtos;
5º) menos partidas transmitidas pela televisão.
8. Sim, pois a entrada de empresas vai trazer maior profissionalismo ao futebol.
RENNER (Grêmio e Sport)
1. Não respondeu. Vence em 1998, em ambos os clubes.
2. Não respondeu.
3. Patrocínio, no uniforme e publicidade estática no estádio.
4. Retorno de imagem e divulgação da marca. Transferência da popularidade do clube para o patrocinador.
5. Não responde. Não, porque conhece o esporte.
6. O Brasileiro.
7. 1º) calendário predeterminado de jogos;
2º) menos partidas transmitidas pela televisão;
3º) campeonatos mais curtos;
4º) lista prévia dos jogos da TV.
8. Depende. A estratégia de patrocinar clubes só é válida após uma minuciosa análise do produto que é oferecido pela empresa em questão.
SALEMCO (Lusa)
Distribuidora de Petróleo
1. Desde o início de 1997. O contrato tem um ano de duração, com opção de renovação por mais um ano.
2. Não respondeu.
3. No primeiro ano, o contrato é de patrocínio no uniforme. No segundo, se houver, há possibilidade de co-gestão.
4. O maior retorno foi a divulgação da marca e sua associação com o esporte, que, para ela, é "uma prática saudável".
5. O futebol brasileiro está em fase de desenvolvimento. Deve sofrer grandes mudanças em curto e médio prazo, com maior participação de empresas, tanto na gestão, como no marketing e no licenciamento de produtos.
6. Hoje é o Estadual, por ser o mercado onde a empresa atua. No futuro, com a ampliação da empresa, deverá o Brasileiro.
7. 1º) menos partidas transmitidas pela televisão;
2º) lista prévia dos jogos da TV;
3º) campeonatos mais curtos;
4º) profissionalização dos dirigentes do esporte;
5º) calendário predeterminado de jogos.
8. Sim. O patrocínio é uma forma de incentivo à prática do esporte saudável.
SANYO (Coritiba)
Indústria eletroeletrônica
1. Desde julho de 1995. Válido até o ano 2000.
2. Cerca de US$ 1 milhão por ano.
3. Patrocínio no uniforme, publicidade estática no estádio e no Centro de Treinamento, exposição de produtos nos estádios.
4. Não faz medição, mas sabe que é satisfatório e que ajuda no fortalecimento da imagem da empresa.
5. O futebol brasileiro está associado a escândalos e crises. Isso é desestimulante porque a empresa teme que sua empresa seja prejudicada.
6. O Brasileiro. O clube tem a garantia de quatro jogos transmitidos pela TV e o público nos estádios é maior do que no Estadual.
7. 1º) profissionalização dos dirigentes do esporte;
2º) calendário predeterminado de jogos;
3º) lista prévia dos jogos da TV;
4º) campeonatos mais curtos.
8. Para indústrias de bens de consumo, sim. O retorno é positivo, já que o futebol é um esporte de massa no país.
TENDA (Atlético-MG)
Construtora
1. Duração do patrocínio de um ano, com possibilidade de renovação; início em janeiro de 1997.
2. Patrocínio anual de R$ 1,2 milhão, mais outras contribuições, de valor não revelado.
3. Patrocínio no uniforme e placas publicitárias; acesso à lista de sócios para usar como mala direta.
4. Fixação da marca junto às classes B, C e D.
5. O futebol é desorganizado, mas a população adora futebol. Não é desestimulante.
6. O Brasileiro, porque atrai mais os torcedores e a imprensa.
7. 1º) profissionalização dos dirigentes do esporte;
2º) calendário predeterminado de jogos;
3º) lista prévia dos jogos da TV.
8. Sim. Para empresas que vendem para as classes média e média-baixa.
UNICÓR (Santos)
Plano de saúde
1. Três anos. Seis anos.
2. R$ 3 milhões por ano.
3. Patrocínio (uniforme e publicidade estática no estádio e Centro de Treinamento), mais participação na contratação de jogadores e realização conjunta de eventos.
4. Retorno institucional e fixação da imagem da empresa. Meta é aumentar vendas do plano de saúde.
5. Desorganizado. Gera instabilidade e dificulta o planejamento. Desestimula muito.
6. Ambos são importantes, mas o Paulista é mais, porque é em São Paulo que a empresa concentra suas atividades.
7. 1º) calendário predeterminado de jogos;
2º) profissionalização dos dirigentes do esporte;
3º) lista prévia dos jogos da TV;
4º) campeonatos mais curtos.
8. Depende. A empresa tem de ter uma fase de aprendizado. O resultado só aparece a longo prazo.

Texto Anterior: Barcelona recua na compra do são-paulino Denílson
Próximo Texto: Base
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.