São Paulo, domingo, 3 de agosto de 1997
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UM ALERTA MADURO

Quando se trata de desequilíbrios econômicos, não há "países diferentes", afirma Rudiger Dornbusch, conceituado economista contemporâneo. Seu artigo que a Folha publica hoje é um importante alerta sobre os desafios que o Plano Real enfrenta.
Não é preciso, evidentemente, concordar com sua conclusão de que a melhor solução para o desequilíbrio externo do Brasil seria desvalorizar a moeda antes que o mercado venha obrigar o governo a fazê-lo. Mas é salutar reconhecer objetivamente quais são as dificuldades atuais.
A lucidez da análise de Dornbusch está justamente na tentativa de evitar alguns dos mitos que frequentemente dominam a discussão econômica e impedem o reconhecimento dos riscos de manter déficits externos elevados por um longo tempo.
O professor questiona a confiança no volume de reservas, a idéia de que os déficits são saudáveis se refletirem investimentos e a de que o endividamento não é problemático se for realizado pelo setor privado. Quando uma crise cambial desmente tais suposições, o mercado fica, por assim dizer, à procura da próxima vítima.
"O problema da Tailândia, como o do México, era a vulnerabilidade. Vulnerabilidade significa que, se alguma coisa dá errado, subitamente muitas outras coisas começam a dar errado." Assim, seria preciso evitar situações nas quais a margem de manobra é estreita e portanto muita coisa precisa dar certo para que o país não seja ameaçado por uma crise.
A Tailândia não podia elevar os juros, sob pena de agravar os problemas de insolvência no setor bancário; não podia reduzi-los, pelo risco de que os capitais começassem a deixar o país. E pretendia administrar um enorme déficit nas contas externas sem mexer na taxa de câmbio.
Dornbusch diz que as crises surpreendem porque, com frequência, "o fato de que há algo basicamente errado (...) não parece dominar a cena". É um alerta maduro. O primeiro passo para enfrentar as dificuldades econômicas é encará-las de frente.

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