São Paulo, segunda-feira, 4 de agosto de 1997
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Esquerda não aposta só no socialismo

CARLOS EDUARDO ALVES
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE

A esquerda latino-americana, depois de alguns êxitos e da perspectiva de outros triunfos eleitorais, já não faz do socialismo a aposta única para combater o neoliberalismo.
A conclusão foi tirada ontem, no encerramento do "Foro de São Paulo", ocorrido em Porto Alegre, que reuniu 58 partidos de 20 países.
O documento aprovado no encontro faz menção apenas genérica ao socialismo. E, mesmo assim, a referência saiu graças à persistência de um grupo de delegados do Brasil e do Peru, inconformados com a versão original do texto, que omitia o tema.
Para superar o neoliberalismo receita-se, no documento oficial, "desde opções nacionalistas e democrático-populares até a perspectiva socialista".
A proposta tirada reflete, em grande parte, o peso do PT e da Frente Ampla (Uruguai) na comissão que elaborou o texto.
Contou, também, com o entusiasmo causado em alguns partidos com a vitória eleitoral de Cuauhtémoc Cárdenas (PRD), recém-eleito prefeito da Cidade do México.
"Vamos transformar os países pela via pacífica", disse Cárdenas em seu discurso na sessão de encerramento do fórum.
Em linhas gerais, o texto aprovado avalia que a esquerda vive um momento de ascensão na América Latina e repete chavões contra os Estados Unidos.
Inova, para os padrões dos signatários, em trechos como o seguinte: "O objetivo supremo do desenvolvimento deve ser a satisfação das necessidades materiais e espirituais do ser humano, com justiça social e harmonia com a natureza".
O tom genérico é justificado também pela composição ideológica não-monolítica dos participantes. Os organizadores reconheceram, até, que estão diante de uma encruzilhada. "Vivemos um impasse pela heterogeneidade das forças, que, às vezes, não têm muita expressão em seus países", afirmou Marco Aurélio Garcia (PT), um dos coordenadores do evento.
Che Guevara
O fórum foi encerrado com uma homenagem ao guerrilheiro argentino Ernesto Che Guevara, celebrizado por sua atuação na revolução cubana.
Outra concessão aos grupos mais à esquerda foi a emenda que admite, sobre formas de luta, "reflexão maior" nos países em que o governo atua de forma "militarizada". No limite, abre-se campo para a hipótese de luta armada.
Luiz Inácio Lula da Silva acompanhou a sessão de encerramento. A edição de 98 do "Foro de São Paulo" foi marcada para a Cidade do México.

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