São Paulo, segunda-feira, 4 de agosto de 1997
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Universidades privadas

ROBERTO LEAL LOBO FILHO

As escolas particulares de ensino superior respondem hoje por mais de 60% das matrículas nesse nível de ensino.
Trata-se de um segmento fundamental para a formação de nossos profissionais, mas que, com raras exceções, nunca gozou de um bom conceito quanto à qualidade do ensino e competência do corpo docente.
Se é verdade que muitas críticas podem ser justas, a presença dominante do setor particular no ensino superior merece o estabelecimento de políticas capazes de torná-lo mais competente e de dar respostas às necessidades da sociedade brasileira.
Esse foi, sem dúvida, o desafio que motivou a Universidade de Mogi das Cruzes a recrutar profissionais em diferentes instituições de ensino superior do país.
Pretende-se aqui, como em outras instituições com orientação semelhante, demonstrar que é possível criar no Brasil uma universidade particular de alta qualidade, capaz de gerar bons profissionais, interagir com a sociedade por meio de programas de extensão e prestação de serviço e desenvolver atividades de pesquisa, dentro de uma realidade orçamentária e financeira.
Para gerar esse novo paradigma, muitos obstáculos precisarão ser superados. Além dos problemas inerentes às próprias instituições, a regulamentação imposta pela legislação que rege o ensino superior é muitas vezes inadequada, baseando-se em visões de qualidade advindas do setor público e estatal.
Do ponto de vista interno, muitas organizações particulares cresceram a partir de colégios ou pequenas faculdades, mantendo a estrutura de empresas domésticas e familiares, centralizadas em decisões individuais e voluntaristas: o critério maior de seleção é a fidelidade aos donos da empresa.
Com as pressões do governo, tentam adaptar-se às novas exigências. Formam doutores e mestres em programas muitas vezes sem qualidade ou fora da área profissional do professor; implantam artificialmente grupos de pesquisa; criam programas de mestrado e doutorado sem embasamento em pesquisa; contratam mestres e doutores sem projetos que os façam aproveitar o conhecimento adquirido.
Corre-se o risco de um novo pacto da mediocridade: o governo finge que exige e as universidades fingem que cumprem.
A fiscalização das universidades é necessária, mas com flexibilidade e compreensão da missão e da origem de cada uma.
Em contrapartida, essas instituições devem melhorar a qualidade de suas gestões e buscar um modelo competente e viável financeiramente.
Isso ainda está para ser construído no Brasil e depende de diálogo, respeito ao usuário, aceitação da diversidade e, principalmente, muito trabalho.

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