São Paulo, segunda-feira, 4 de agosto de 1997
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Novo death metal brasileiro ganha Europa

CÉLIA ALMUDENA
DA REPORTAGEM LOCAL

Seu som é um metal superpesado. O vocal é bem cavernoso. Eles só cantam em inglês, com Max na bateria. E este ano fizeram mais shows na Europa do que no Brasil.
Não, não é o Sepultura, mas um forte candidato a seguir o caminho da banda de metal brasileira de maior sucesso no exterior. Trata-se do Krisiun, grupo que saiu, em 92, do Rio Grande do Sul para conquistar o mundo.
Apesar dos sobrenomes distintos, os krisiuns são irmãos: Alex Camargo, 26 (vocal e baixo), Moyses Kolesne, 24 (guitarra e teclados), e Max Kolesne, 23 (bateria).
"Olhamos para a banda de uma forma bem profissional. As bandas sempre têm problemas de formação, por discordâncias. Nós, não, não vamos desmanchar a banda por briguinhas bobas ou por problemas de orgulho", diz Moyses.
Apesar do tom familiar, o som do Krisiun é o típico death metal que pode destruir os tímpanos dos mais desavisados. E as letras vão pela mesma linha, abordando satanismo, o fim do mundo etc.
"Nossas letras são muito influenciadas pela linguagem apocalíptica, pela bíblia satânica e pela bíblia tradicional. Mas não somos satanistas, não matamos animais", explica Moyses.
O vocal rouco e "escondido" entre os instrumentos é uma característica do estilo death metal, segundo Moyses.
"Quanto mais extremo, mais 'low tonned', como é classificado esse tipo de vocal, mais os garotos gostam. Os europeus tentam fazer e não têm a mesma pegada dos brasileiros. Nisso, a gente se sobressai, carregamos a agressividade no couro. Talvez seja esse fator que está transformando o metal brasileiro num dos mais agressivos do mundo."
A trajetória do Krisiun não foi muito diferente da maioria das bandas. Mudaram para São Paulo em 92, gravaram uma fita demo e apresentaram a várias gravadoras. A Dynamo fez um "split album", vinil com uma banda em cada lado do disco.
"A gravação não tinha muita qualidade, mas a repercussão foi boa. Com a grana, gravamos o primeiro CD, também sem muita qualidade. Mas a repercussão foi boa, e o disco foi distribuído na Europa, EUA e Brasil."
Com a grana desse disco, o Krisiun voltou ao estúdio e saiu o "Black Force Domain", lançado inicialmente na Europa e agora no Brasil, pela Roadrunner.
Como o Sepultura, eles cantam em inglês "porque tem mais a ver com o estilo de som e porque assim temos mais chances lá fora, apesar de no Brasil o mercado de metal extremo estar crescendo bastante", diz o guitarrista.
Os irmãos Krisiun moram em São Paulo e voltaram de uma turnê há um mês. Fizeram 25 shows na Europa, tocando na Holanda, Tcheco-Eslováquia, Bélgica e várias cidades da Alemanha.
"Essa turnê foi superpositiva, rolou muito rádio, reportagens em jornais. Foi tão bom que em novembro estamos voltando para lá", conta Moyses.
O sucesso repentino é justificado por um revival do death metal no mundo, "o Sepultura estourou lá fora tocando esse estilo".
E a comparação com o Sepultura fica mesmo inevitável. Mas isso não abala os integrantes do Krisiun. "Algumas pessoas comparam. Mas a gente não pensa que vai ser como eles. Temos os pés no chão: somos o Krisiun e lutamos por nossas idéias", diz Moyses.
Para ele, o sucesso do Sepultura é bom para as outras bandas de metal brasileiras. "O público já tem uma expectativa e sabe que vai ouvir um som bem brutal, bem empolgante. Quando vamos tocar, eles não acham que vão ver três selvagens. Sabem que tem música de verdade."
Apesar de pouco conhecido do grande público -apenas uma única música deles ("Hunter of Souls") toca em programas especiais da Brasil 2000 e da 89FM-, o Krisiun já tem dois fãs-clubes: um em Fortaleza e outro na Alemanha.
Antes da nova turnê na Europa, o grupo se apresenta, ainda este ano, em Florianópolis, Porto Alegre e Curitiba.
"Também estamos compondo as músicas do novo disco. Até o final do ano acho que ele será gravado para ser lançado no início do próximo ano", diz Moyses.

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