São Paulo, segunda-feira, 4 de agosto de 1997 |
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Guerra na Irlanda gera épico e thriller
JOSÉ GERALDO COUTO
Dois filmes que chegam agora ao vídeo -"Inimigo Íntimo", de Alan J. Pakula, e "Michael Collins", de Neil Jordan- não instruem muito o espectador sobre o assunto, mas ilustram os diversos usos que o cinema pode fazer de um tema histórico. As diferenças entre os dois começam no recorte cronológico. "Michael Collins" situa-se nas décadas de 10 e 20; "Inimigo Íntimo" é ambientado nos dias de hoje, em que, já conquistada a independência da República da Irlanda, luta-se para libertar a Irlanda do Norte do domínio inglês. Mais significativas são as diferenças de abordagem. "Michael Collins" é um melodrama épico sobre a fundação do Exército Republicano Irlandês (IRA) e os sangrentos primórdios da autonomia do país. Concentra-se, obviamente, no personagem-título, criador do IRA e comandante das primeiras ações armadas do movimento. Graças à direção consistente de Neil Jordan e à atuação vigorosa de Liam Neeson, o filme consegue dar relevo humano ao personagem e ao mesmo tempo traçar um painel convincente -ainda que superficial- das lutas fratricidas no seio do movimento republicano. O principal problema, aqui, é a descabida importância dada ao triângulo amoroso entre Collins, seu parceiro de armas Harry Boland (Aidan Quinn) e a bela Kitty Kiernan (Julia Roberts) como fator de cisão do movimento. Jordan, que já abordara a questão irlandesa em "Traídos pelo Desejo", sucumbiu aqui à visão hollywoodiana da história, segundo a qual são as paixões de alguns indivíduos excepcionais que movem o mundo. Em "Inimigo Íntimo" essa tendência se acentua ainda mais. A rigor, o filme de Alan Pakula usa a Irlanda como mero pretexto para um thriller sentimental. O que interessa a essa superprodução americana é colocar frente a frente dois astros de gerações distintas: Brad Pitt e Harrison Ford. O primeiro interpreta um jovem terrorista do IRA que vai aos EUA buscar armas e acaba se envolvendo com um policial veterano (Ford), imigrante irlandês e pacifista de carteirinha. O que o filme encena é mais uma conflituosa relação pai-filho entre os dois, entremeada com os costumeiros tiros e perseguições, do que um enfrentamento de posições sobre a guerra civil irlandesa. O tema é esvaziado de qualquer dimensão política: o rapaz só virou terrorista porque viu seu pai ser assassinado. O ideal hollywoodiano está aí: o coletivo sumiu, resta apenas o herói solitário. Filme: Michael Collins - O Preço da Liberdade Produção: Irlanda, 1996, 133 min. Direção: Neil Jordan Com: Liam Neeson, Julia Roberts, Stephen Rea, Alan Rickman, Aidan Quinn Lançamento: Warner (tel. 011/820-6777) Filme: Inimigo Íntimo Produção: EUA, 1997, 107 min. Direção: Alan J. Pakula Com: Brad Pitt, Harrison Ford, Margaret Colin, Ruben Blades, Treat Williams Lançamento: Columbia (tel. 011/5585-3836) Texto Anterior: Dançarina Carla Perez é operada hoje em Salvador Próximo Texto: "Ruth" só tem polêmica e humor Índice |
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