São Paulo, segunda-feira, 4 de agosto de 1997
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Grande Mac

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - Nada simboliza melhor o triunfo americano do que a proliferação do McDonald's. Para os Estados Unidos, que sempre gostaram de exibir sua musculatura bélica, não deixa de ser cômico que a vitória venha pela via do estômago.
Truman destruiu Hiroshima e Nagasaki e interveio na Coréia. Eisenhower desembarcou marines no Líbano e derrubou o governo da Guatemala. Johnson meteu a colher na República Dominicana e abriu guerra contra o Vietnã. Bush enviou soldados para o golfo. Mas nenhuma munição foi mais eficaz do que o cardápio do McDonald's.
Moscou, por exemplo, jamais foi a mesma depois do Big Mac com fritas. A perestroika emparedou o comunismo. Mas foi a vida ágil e fácil que se esconde atrás do hambúrguer que lançou a última pá de terra na sepultura do coletivismo soviético.
No Brasil, a rede McDonald's -267 lanchonetes, instaladas em mais de 50 cidades- se prepara para lançar uma inusitada campanha publicitária. Serão exibidas aulas de português na TV.
O pessoal do McDonald's decerto perdeu o senso. Por que ensinar um dialeto à beira da extinção? O Brasil de nossos dias se diverte, como se sabe, já vai às compras, come, vive enfim, em inglês.
Aqui, vai-se ao Playcenter, ao Beto Carrero World, ao Beach Park. Mesmo em Luziânia, um grotão de Goiás, busca-se divertimento no Acqua Play International Park. Nos shopping centers, aproveitam-se sales para adquirir produtos com preços 10%, 15% ou 20% off. Pede-se até comida em casa pelo sistema delivery.
Segundo o jornalista Paulo Trevisani Jr., os comerciais do McDonald's começam a ser exibidos agora em agosto. Espera-se que mudem de idéia. Melhor partir logo para o inglês. Será mais fácil pedir o Big Mac, o McChicken. Ou, dificuldade suprema, o McNuggets com molho de barbecue. Que a colonização se faça por inteiro.

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