São Paulo, segunda-feira, 4 de agosto de 1997
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Clones

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - O Brasil sempre foi um povo assanhado. Herdamos dos índios o assanhamento diante das caravelas que chegavam. Estavam mal informados nem por isso renunciaram ao assanhamento.
Daí que não entendi o recente impacto aqui verificado com a clonagem de uma ovelha alienígena. Temos mais e melhor do que uma ovelha em duplicata.
Os cinco generais que nos governaram durante 21 anos tiveram uma clonagem às avessas: resultaram num único presidente que pensa em ficar no poder outros tantos anos. Para isso, só não baixa atos institucionais porque tem as medidas provisórias e um tesoureiro de campanha para convencer o Congresso a aprovar tudo o que o beneficia.
Clonagem no duro -e essa na mão certa- é a do finado Amaral Netto. O que tem de amarais nettos na mídia é espantoso, com a variante, tipicamente nacional, de haver clones nos dois sexos. E até no terceiro -há gosto para tudo.
Outro dia, jantava numa churrascaria onde havia uma TV ligada. Não sou de ouvir vozes, mas juro que ouvi a voz do finado jornalista e radialista (mais tarde deputado) malhando a oposição que atrapalha o governo na dura tarefa de salvar o país.
Clone mais sofisticado é a do folclórico Benedito Valadares, que em momentos de crise, indagado sobre o que dizia da situação, invariavelmente respondia: "Meu filho, nesses momentos eu nem ouço!"
Curiosamente, se vivo fosse, o velho Benedito seria do PFL. Mas seus clones estão todos no PSDB, engolindo todos os sapos e predestinados a engolir muito mais.
Como desgraça pouca é bobagem e queijo em francês (por causa da rima) é fromagem, temos uma infinidade de Chalaças que dão expediente integral (inclusive nos fins-de-semana) no duro ofício de agradar o imperador.

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