São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997
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Nada de novo

JANIO DE FREITAS

O destino dos assuntos relevantes, quando postos em discussão no Brasil, é tornar-se chatos e relegados antes que deixem de ser relevantes, pela aplicação de algum resultado concreto do debate. O assunto das polícias, importante sob muitos aspectos, já entrou na chatice e, com isso, na certeza de que nada será feito para corrigir as deformações que ameaçam a segurança das pessoas e das coletividades.
Posta a questão em termos crus: o governo está interessado em esvaziar o componente político que movimentos de PMs voltem a ter, e pronto. As sugestões "em exame" não se voltam para os problemas da má relação entre as polícias e as populações, entre as polícias e sua função. Em torno de futilidades variadas, como o "provão para os PMs", o que está em discussão no governo é a escolha, se alguma se mostrar viável, entre extinguir a PM, pela fusão com a polícia civil, ou enfraquecê-la, pela municipalização que a desmembraria.
Nenhuma das duas hipóteses é provável. Mesmo que não se questione seu nível de racionalidade, os muitos obstáculos começam por serem, ambas, providências dependentes de emenda constitucional e matérias que envolvem interesses regionais dos deputados e senadores. Ou seja, qualquer das duas hipóteses é vôo no escuro e de decisão a prazo muito longo.
No essencial, tudo acabará como já estava. Se sair alguma coisa das reuniões oficiais, serão só lantejoulas para a fantasia de ação governamental.
Conflito Há duas semanas, os prelados católicos estabeleciam procedimentos para que a Igreja enfrente o êxito dos chamados evangélicos, cujo templos são cada vez mais numerosos e mais cheios.
No fim-de-semana começou em Niterói e São Gonçalo um movimento de apelo coletivo de católicos, para que evitar a transferência punitiva de um pároco capaz de fazer inveja aos mais hábeis pastores evangélicos. Ainda que conquistando milhares de frequentadores para sua Igreja Católica, o padreco comete o uso de sandálias, que o bispo Carlos Alberto Navarro considera imperdoável.
O fato é mais do que anedótico. É uma figuração precisa da continuada invocação do Cristo, um descalço, pelos que preferiram os calçados de verniz e os tecidos acetinados -para si e para escolherem aqueles a quem dariam sua companhia protetora.
As semelhanças entre o catolicismo e o "socialismo real" são infinitas.

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