São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997
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Reedições buscam origens de Paulinho

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

Já lançado em CD há alguns anos, "Na Madrugada" (66), que marcou a estréia em disco próprio dos sambistas Elton Medeiros e Paulinho da Viola, recebe finalmente edição digna de sua importância -remasterizada, com capa original e recheada de textos informativos.
Em 66, Elton e Paulinho vinham já de participações no projeto "Rosa de Ouro" e nos conjuntos Os Cinco Crioulos e A Voz do Morro (de que a RGE reedita também o álbum "Os Sambistas").
"Na Madrugada" é confirmação de algo que os trabalhos anteriores já faziam suspeitar: no samba, não há conflito de geração.
Nos quintais de Cartola, Nelson Sargento e outros tantos, Paulinho e Elton fizeram escola, e "Na Madrugada" chegou como trabalho precoce a ser automaticamente inserido na tradição do samba.
Paulinho, em especial, trazia um de seus primeiros clássicos, um samba com maturidade comparável à de um homem muitas décadas mais vivido.
Era "14 Anos", em que, tão jovem quanto já nostálgico, Paulinho esboçava conflito geracional manso que desaguava na retidão de caráter inerente ao samba autêntico: "Eu estou necessitado/ mas meu samba encabulado/ eu não vendo, não, senhor" (leia íntegra da letra de "14 Anos" em quadro à direita).
Parece prodigioso: num disco lançado muito cedo e tomado ainda por convenções que logo depois o tropicalismo converteria em ultrapassadas, Paulinho mostrava-se já capaz de conceber obra-síntese de toda uma carreira.
Isso, entretanto, é só um lance de "Na Madrugada". Sob a batuta de Hermínio Bello de Carvalho, o disco é um desfile de parcerias da dupla com Cartola ("O Sol Nascerá", "Sofreguidão"), Candeia ("Minhas Madrugadas"), Zé Keti ("Mascarada", "Samba Original"), Casquinha ("Recado") e outros.
Em particular nos trabalhos de Elton Medeiros, percebem-se modalidades de samba ainda vinculadas à canção de protesto, como "Maioria sem Nenhum".
A partir daí, a associação Paulinho/Elton continuaria firme, mas já em "14 Anos" o primeiro se impunha como nome a explodir num cenário pop.
"Os Sambistas" e "Na Madrugada" ressurgem como marco fundador de corrente crucial da MPB das últimas três décadas, e por isso a gravadora RGE se faz merecedora de todos os agradecimentos.
(PAS)

Disco: Na Madrugada
Artistas: Elton Medeiros e Paulinho da Viola
Lançamento: RGE
Quanto: R$ 18, em média

Disco: Os Sambistas
Grupo: Conjunto A Voz do Morro
Lançamento: RGE Quanto: R$ 18, em média

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