São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997
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CRÍTICA

Melodias para curar a dor

MARCELO OROZCO
DO "NP"

O chavão do artista que sofre por sua obra rende lamúrias de crocodilo. Mas às vezes aparecem coisas genuinamente belas. Para o rock, isso acaba de acontecer com "...Floating in Space", terceiro álbum do grupo inglês Spiritualized.
O CD entra para o clube restrito inaugurado há 31 anos por "Pet Sounds", dos Beach Boys, primeiro disco em que o rock foi usado como terapia.
Em 1966, Brian Wilson, o líder dos Beach Boys, aplicou suas inseguranças, dúvidas e dores de amor em melodias impecáveis e arranjos criativos.
Em 1997, Jason Pierce, guitarrista do Spiritualized, usou a depressão, descrença e consumo de heroína em que caiu com o fim do romance com a tecladista Kate Radley (ainda na banda) para criar um CD de peito e ouvidos abertos.
Jason levou ao extremo a idéia de que a música curaria sua dor, dando um tratamento gráfico de uma embalagem de comprimidos à capa e ao encarte.
Os arranjos são complexos, com guitarras distorcidas, sopros, corais, cordas suaves.
Jason consegue sugerir sonhos e pesadelos (os de dormir e os da alma) misturando rock, soul, gospel, valsinha celestial, psicodelismo não-hippie.
Com voz frágil, expulsa tudo sem forçar uma teoria complicada ou intelectualizada sobre quebrar a cara.
O mergulho de Jason e seu Spiritualized produziu algo digno de ser admirado por quem nada tem a ver com o que ele passou.

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