São Paulo, terça-feira, 5 de agosto de 1997 |
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Dora Bahia reveste violência de serenidade
CASSIANO ELEK MACHADO
São 12 telas. Em cada uma, Dora retratou um homem. Todos estão na mesma pose, com as pernas unidas e os braços relaxados. Nenhum esboça sorrisos, preocupações, ou tristezas. "É como se eles estivessem em um espaço vazio. Você não tem uma localização de onde eles estão, quando estão, para aonde eles vão. São como pessoas desaparecidas", explica Dora. Congelados em tonalidades frias de azul, os personagens são acompanhados de pequenos textos que a artista colecionou de páginas policiais de jornais (veja um deles ao lado). São histórias de assassinatos, suicídios, espancamentos. "Textos banais", como ela diz, garimpados das "regiões menos nobres do jornal". Violência sem violência Em seus trabalhos anteriores, Dora vinha explorando o duelo entre o grotesco e o belo, com a exposição de cenas sangrentas, cortes e suturas. Desta vez, Dora preferiu discutir a banalização da violência "com o mínimo de violência possível". "Não quero fazer uma crítica. Não quero tomar uma posição. É apenas um depoimento. Isso acontece." Como modelo para suas telas, Dora recrutou 12 amigos. "Queria colocar pessoas banais. Qualquer pessoa. Eles todos são diferentes, mas estão na mesma pose, não têm expressão, atitude, gesto. Não existe individualidade", conta a artista, professora de pintura do curso de artes plásticas da Faap (Fundação Armando Álvares Penteado). Dora diz que não há relação entre os personagens das telas e os textos a eles sobrepostos. A intenção é mostrar que qualquer um poderia estar envolvido nessas histórias. "Estou falando sobre o indivíduo abstrato. Sobre qualquer um." Ela explica que só não usou seu próprio rosto -como fez diversas vezes- para não parecer que é uma obra narcisista. Corredor polonês Retratados em tamanho natural, os "homens" de Dora foram dispostos em duas fileiras de seis. Enfileiradas dos dois lados da galeria, as telas lembram um corredor polonês. Na opinião da artista, "os homens estão muito pacíficos, mas intimidam". Dora salienta que a repetição de diferenças é importante. "Se você mostra um, é um indivíduo. Se você mostra vários, eles formam um povo." Exposição: Dora Longo Bahia Vernissage: hoje, às 19h Quando: segunda a sexta, das 10h às 20h; sábado, das 10h às 14h. Até 30 de agosto Onde: galeria Luisa Strina (r. Padre João Manuel, 974-A, Jardins, região sudoeste, tel. 011/280-2471) Quanto: entrada franca Texto Anterior: CRÍTICA Próximo Texto: Lygia Pape expõe prenúncio de sua liberdade Índice |
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