São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997
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Conselho de medicina promete agir contra indicações políticas

Deputados federais indicaram diretores de hospitais

DA SUCURSAL DO RIO

O Cremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio) decidiu abrir sindicância contra médicos que assumirem 25 cargos de chefia no Hospital-Geral de Bonsucesso.
A medida foi adotada como reação da entidade à indicação do novo diretor do hospital pelo deputado federal Procópio Lima Netto (PFL-RJ).
Os médicos que aceitarem assumir os cargos de auxiliares do diretor sofrerão sindicância por má conduta ética.
Se forem condenados, eles podem ser suspensos por 30 dias do exercício profissional.
Para o Cremerj, cinco hospitais federais no Rio, como o de Bonsucesso (zona norte da cidade), foram loteados por políticos em função das eleições de 1998.
A força política de Lima Netto provocou a queda do então diretor Roberto Carelli, que tinha sido escolhido havia cinco anos após ser eleito pela maioria dos funcionários. Há quinze dias, assumiu o médico Sidney Dias de Oliveira.
Deputado confirma
O deputado Lima Netto confirmou ter nomeado Oliveira e disse que "qualquer indicação para o setor público é política".
Para ele, o importante, no caso, é que Oliveira consiga dar um bom atendimento de saúde à comunidade da região. "Eu indiquei, mas indiquei uma pessoa competente."
Em protesto, os 25 chefes das unidades do hospital de Bonsucesso -que ainda não foram substituídos por Oliveira- decidiram ontem só se reportar ao diretor em casos emergenciais, como a necessidade da compra urgente de um medicamento.
Na próxima segunda-feira, haverá assembléia dos funcionários do hospital, para discutir a questão.
Por assumir um cargo de confiança do ministro da Saúde, Carlos Albuquerque, Oliveira não está sujeito a processo por má conduta ética.
O Cremerj, a Federação Nacional dos Médicos, o Sindicato dos Médicos do Rio e médicos do hospital de Bonsucesso acusam o governo federal de voltar a praticar o fisiologismo político, transformando os hospitais em moedas eleitorais.
Os deputados federais Lima Netto, Roberto Jefferson (PTB), Alexandre Santos (PSDB) e Vanessa Felipe (PSDB) estariam por trás das recentes indicações.
Desses quatro, somente Lima Netto e Jefferson confirmaram que fizeram indicações para cargos de diretores.
O chefe da emergência do hospital de Bonsucesso, Julio Noronha, 42, disse que ele e mais três médicos chegaram a procurar Lima Netto, para tentar reverter a indicação de Oliveira.
Barganha
"Na nossa frente, o deputado declarou que o presidente Fernando Henrique Cardoso havia dado o hospital para ele e que ele não abriria mão do doutor Sidney", disse Noronha.
Para os médicos -dentre eles o presidente da federação dos médicos, Jorge Darze-, "ficou claro" que Lima Netto ganhou o direito da indicação ao hospital por ter apoiado o projeto da reeleição presidencial.
Lima Netto disse à Folha que realmente indicou Oliveira, mas que "é mentira" que tenha falado que recebera o hospital do presidente ou que tenha havido uma barganha política em torno da votação na Câmara da emenda da reeleição.
Cargo político
Para o deputado Jefferson, as entidades que criticam as escolhas são ligadas ao PT, que faz oposição ao governo.
"Direção de hospital é um cargo político. Vai botar adversário por quê? Eles, se quiserem, que ganhem a eleição", afirmou Jefferson.
O secretário-substituto de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde, Roberto Magalhães, 52, disse que indicar um diretor de hospital é "direito de qualquer deputado ou cidadão".
Segundo ele, cabe somente ao ministro (Carlos Albuquerque) avaliar se o nome indicado "é pertinente ou não".
"O ministro nomeia quem achar que deve ser nomeado", disse Magalhães.

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