São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997
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Privatizar é questão de vontade política

RUBENS TAFNER

O reclamado Programa Nacional de Privatizações, que começou de maneira tímida, esbarrando em diversos obstáculos corporativistas, está se firmando dentro daqueles projetos que podemos classificar como ambiciosos.
Na verdade, governos anteriores atrasaram o país no sentido de redesenhar o papel do Estado, relevando a importância da crescente volúpia competitiva e da demanda por melhorias nos serviços prestados pelas estatais.
A experiência dos programas de privatização em outros países, alguns em adiantada fase de implantação, outros inclusive já concluídos, demonstram que a troca do dono do negócio é um tremendo sucesso. Não há mais o que discutir. É incrível, portanto, como ainda há quem não queira admitir realidade tão cristalina...
As forças que insistem em se reunir para tumultuar as privatizações já são bastante conhecidas. Desejam, invariavelmente, criar novos fatos políticos para surgir na mídia e tentar manter privilégios corporativistas. Privilégios incompatíveis com a difícil situação do país, que hoje nem sequer dispõe de recursos para investir em áreas básicas de sua atuação, onde seu papel é fundamental para nosso crescimento econômico e social.
Nesse sentido, vale outra ressalva. As dificuldades de vários Estados para honrar seus compromissos também são péssimas para a imagem do Brasil junto aos investidores.
O fôlego, definitivamente, acabou. Mudanças imperiosas na forma de administrar os Estados são fundamentais; caso contrário, os benefícios gerados pelo sucesso do PNP podem ser esquecidos da noite para o dia.
Por enquanto, à medida que novos segmentos são privatizados, pode-se observar o alto grau de interesse dos investidores em participar das oportunidades oferecidas.
Também lá fora, de forma inequívoca, a confiança no país está aumentando. Passamos a ser candidatos prioritários a receber volumes expressivos de novos investimentos, que estão vindo para ajudar na manutenção das reservas cambiais e na administração do fluxo de recursos, sem o risco de oscilações provocadas pelo "hot money".
Mais importante é que o sucesso do programa também deve ser visto como uma demonstração de força política. O governo dá provas de que pode comandar as ações para implementar outras reformas desejadas pela sociedade. Isso certamente reforça a imagem externa do país, contribuindo para a gradual inserção do Brasil entre os chamados "países desenvolvidos".
A privatização da banda B é um exemplo clássico. O sinal remetido à comunidade financeira internacional foi extraordinariamente bem recebido.
No Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef/SP), os executivos das principais empresas brasileiras e multinacionais também entendem que ficou clara a mudança de perfil dos investidores. Agora, estão investindo aqui aqueles que acreditam no potencial do nosso mercado, pensando a longo prazo.
O esforço realizado até agora pelo governo vem valendo a pena. Certamente, novas portas ainda serão abertas ao Brasil, propiciando outras oportunidades e até custos mais reduzidos no disputado mercado financeiro internacional, se outros segmentos "privatizáveis" receberem a mesma dedicação. A vontade política, aliada a um trabalho responsável, é um ingrediente essencial para a continuidade daquilo que já foi feito até agora.

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