São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997
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Mortes de civis libaneses são prenúncio da guerra

ROBERT FISK
DO "THE INDEPENDENT", EM BEIRUTE

Apenas 16 meses depois de a sangrenta operação israelense Vinhas da Ira deixar quase 200 civis libaneses mortos, a história está se repetindo no sul do Líbano. Civis libaneses estão sendo mortos por obuses israelenses ou em explosões de bombas -que os israelenses e os guerrilheiros do Hizbollah atribuem uns aos outros-, enquanto milicianos pró-israelenses e integrantes do Hizbollah morrem quase diariamente.
Ontem, Israel prometeu vingar o chamado "terror" do Hizbollah, quando dois foguetes (que, segundo o Hizbollah, não foram disparados por seus homens) explodiram do outro lado da fronteira israelense, ferindo levemente uma israelense. Foi exatamente assim que tudo começou da última vez.
Dessa forma, horror de mais uma guerra na sul do Líbano só se equipara a sua previsibilidade -e, como sempre, a retórica estava sendo disparada, ontem, quase tão rapidamente quanto os obuses.
Saied Hassan Nasralleh, o líder do Hizbollah, e Moshe Fogel, porta-voz do governo israelense, rugiam como leões em Beirute e Jerusalém, respectivamente, cada um jurando retaliar o outro por seus respectivos ataques a civis.
Poderia haver motivos para esperanças de um ponto final nas hostilidades, se o comitê de cessar-fogo sírio-israelo-libanês-americano-francês, que deverá se reunir outra vez no domingo, fosse levado mais a sério.
Mas em sua última sessão o delegado libanês passou algum tempo dizendo que os israelenses estariam "trivializando" o comitê, discutindo incidentes menores, enquanto seu colega israelense passou tempo equivalente se queixando de que o representante libanês estaria tentando "se mostrar".
Não é difícil identificar os motivos da frustração sentida por ambos os lados. Na zona de ocupação, os israelenses -que, toda semana, perdem soldados em ataques do Hizbollah- estão guardando uma área cuja proteção é militarmente inviável, além de não servir a grande coisa nem ter potencial futuro.
A zona de ocupação não impede os ataques de foguetes contra Israel, mas não pode ser abandonada sem fazer o governo direitista do Likud sofrer uma humilhação. O Hizbollah, após a morte de cinco de seus homens por bombas israelenses esta semana, jurou retaliar.
Enquanto isso, as baixas civis vêm sendo tratadas com o mais profundo cinismo. Quando aviões israelenses bombardearam uma colina no sul do Líbano, esta semana, matando dois lavradores idosos, o porta-voz militar israelense afirmou que suas forças haviam feito "ataques de precisão" contra "alvos terroristas".
Pode soar reconfortante para os israelenses, mas para os libaneses foi praticamente obsceno. E não há nenhum ponto final à vista. Ontem o Hizbollah atacou outra posição israelense com 15 morteiros, um dos quais atingiu o alvo diretamente. Os israelenses responderam com 25 obuses disparados de morteiros, artilharia e tanques. Não houve feridos -dessa vez.

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