São Paulo, sábado, 9 de agosto de 1997
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O Napoleão do BC

CLÓVIS ROSSI

Paris - O jornal britânico "Financial Times" dedicou, na semana passada, pequena nota, numa seção tipo "Painel", ao novo presidente do Banco Central brasileiro, Gustavo Franco.
Era bastante elogiosa. Mas, a horas tantas, o autor comparava Franco a Napoleão (Bonaparte), sem, no entanto, explicar minimamente o motivo da comparação.
Os adversários de Franco poderão ser maldosos e achar que a comparação se deve à altura do novo presidente do BC. O ex-embaixador argentino no Brasil Diego Guellar já tivera a infeliz idéia de dizer que Franco era "baixinho".
Mas o "Financial Times" é suficientemente elegante para não cair nessa baixaria (juro que não é trocadilho).
Quem não gosta de Franco poderia também supor que o jornal britânico acha o rapaz meio louco. Mas tampouco é provável.
Se fosse essa a intenção, está, de todo modo, desmentida pela sabatina de Franco no Senado, na qual disse que o Brasil não vai abusar do déficit nas contas externas.
Como ele já me deu mais de uma aula sobre a desimportância do déficit externo, a cautela de agora prova que, ao pular para um posto de maior visibilidade, Gustavo Franco não é louco de repetir certas coisas.
Seja como for, o governo ganhou uma estrela, em um conjunto que, certo ou errado em suas políticas, é opaco na sua grande maioria.
O que me fascina nele é a capacidade de ter certezas absolutas, quando eu só tenho dúvidas a respeito de quase tudo.
Gustavo Franco é daquele time de acadêmicos que, se a gente perguntar o que vai acontecer digamos dia 14 de abril de 2003, responde com a hora exata em que o sol se levantará, a quantidade de milímetros de chuva que haverá e a direção e velocidade do vento.
Pode até errar, mas é mais corajoso do que o nhenhenhém da maioria de seus colegas.

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