São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Especialistas defendem união de polícias

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Nove entre 11 especialistas ouvidos pela Folha defendem a desmilitarização da polícia e sua unificação em uma única entidade, de natureza civil.
Essa nova polícia teria a função de fazer o policiamento ostensivo e preventivo, além de realizar investigações e inquéritos.
Atualmente, essas duas funções são divididas entre a PM (Polícia Militar) e a Polícia Civil. A primeira faz o policiamento ostensivo e preventivo e, a segunda, cuida da parte investigativa.
Com a desmilitarização, a PM deixaria de cumprir essas funções. O policiamento ostensivo e preventivo passaria a ser realizado por um segmento armado e uniformizado da Polícia Civil.
Incompatibilidade
Na opinião dos especialistas, as palavras militar e polícia são incompatíveis. Segundo eles, os militares têm treinamento que não é adequado ao policiamento -atividade eminentemente civil.
A PM fica em quartéis, tem hierarquia militar e recebe treinamento para a guerra, pelo qual o objetivo é eliminar o inimigo. É um pequeno Exército estadual. Não é à toa que a PM é classificada pela Constituição como força auxiliar e reserva do Exército.
Essas características, segundo especialistas, distanciam a corporação do cidadão e fazem com que os policiais militares, muitas vezes, tenham truculência excessiva.
"Se é polícia, não é militar; se é militar, não é polícia", afirma Celso Bastos, professor de direito constitucional da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). "Por que militarizar algo que é civil?", pergunta o advogado José Carlos Dias, ex-secretário da Justiça de São Paulo.
A desmilitarização também é defendida com a tese de que dará maior racionalidade à atividade policial. A atual divisão entre a PM e Polícia Civil provoca rivalidade entre as duas corporações.
Projeto Covas
Esse é o principal argumento do secretário da Segurança Pública de São Paulo, José Afonso da Silva, para defender o projeto de emenda constitucional de sua autoria que unifica as polícias.
Segundo ele, a Constituição institucionalizou uma duplicidade policial "que não funciona, em razão do desentrosamento entre os dois organismos policiais".
"A divisão só serve para criar conflito", afirma o advogado Arnaldo Malheiros Filho.
Os defensores da desmilitarização nem sempre concordam com a amplitude que ela deve ter. O projeto de Silva, defendido pelo governador Mário Covas, mantém a PM, com atribuições e efetivo reduzidos (ver quadro ao lado).
O projeto é apoiado pelo Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, diz o juiz Sérgio Mazina Martins, diretor da entidade.
José Carlos Dias defende a extinção da PM. A Polícia Civil teria um segmento treinado para agir contra a perturbação da ordem. O fim da PM é apoiado pelo deputado Hélio Bicudo (PT-SP) e por Paulo Sérgio Pinheiro, do Núcleo de Estudos da Violência da USP.
O professor de teoria geral do Estado da USP Dalmo Dallari é a favor da desmilitarização, mas defende duas polícias de caráter civil: uma para o policiamento ostensivo, outra para a investigação.
O constitucionalista Clèmerson Merlin Clève defende a desmilitarização e a liberdade para os Estados moldarem as polícias.
Os advogados Ives Gandra da Silva Martins e Carlos Ari Sundfeld são contra a desmilitarização.

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