São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Tempo na prisão vira viagem

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O garçom Ronival Villani, 25, diz que um dia sentará com as duas filhas e contará o que aconteceu naquele ano em que elas ficaram sozinhas. A viagem de três meses para um lugar distante nunca existiu.
Também não existiu o trabalho que durou nove meses e que não permitia que voltasse para casa.
Na verdade, Villani passou um ano preso no interior, condenado por planejar um assalto executado por duas outras pessoas.
Quando foi preso, as filhas tinham 3 e 4 anos. Nos primeiros meses, a mãe dizia que o pai estava viajando. "Depois não aguentei mais e decidimos enfeitar a cela para receber as meninas", conta.
Os colegas do xadrez 7 colaboravam: colocavam tapete no chão, cobriam as grades com panos coloridos e preparavam um bolo com refresco.
"Eu mostrava os barquinhos de madeira que fazia e dizia que os presos eram meus colegas de trabalho", conta. "Contava que tinha tanto trabalho que não poderia voltar para casa."
"A pior hora era a despedida", diz Villani. "O carcereiro trancava as celas, e as meninas perguntavam por que eu ficava lá dentro."
Villani mudou-se com a família para São Paulo e uma vez por mês se apresenta à Justiça. A Pastoral Carcerária o ajudou a encontrar trabalho. Nos cursos que fez no Senac e em seu trabalho como garçom, Villani só vem recebendo elogios.
(AB)

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