São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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A era dos números

LUÍS NASSIF

A falta de informações gerenciais e setoriais confiáveis talvez se constitua, hoje em dia, em um dos itens intangíveis de maior peso na composição do chamado custo Brasil.
A tradição do IBGE se esboroou em décadas de descaso com os números, em função de índices inflacionários que desvirtuavam qualquer estatística.
Nos próximos anos, empresas e setores da economia que não tiverem organizado seu sistema de informações não terão acesso nem a crédito bancário nem a investimento.
Do lado do crédito, os bancos gradativamente passarão a substituir as velhas formas patrimonialistas, que refletiam apenas o passado -garantias reais, balanços etc.-, por critérios que tomam por base o futuro -como análises setoriais e análises de fluxos de caixa dos clientes.
Para tanto, necessitam dispor de inteligência e conhecimento sobre setores e sobre empresas. Saber o desempenho, as tendências, os indicadores médios, a sazonalidade, os itens de maior peso na composição de custos etc.
Do lado do investimento, grande parte dos recursos de capital entrará nas empresas via participação acionária. É questão de tempo para que os financiamentos sejam definitivamente substituídos por aquisições de debêntures conversíveis ou compra de participação acionária. Principalmente em setores suscetíveis a processos de fusão e incorporação.
Também aí, o primeiro passo é o conhecimento amplo sobre os números do setor -e das empresas, obviamente.
O passaporte das empresas e setores para aspirarem a esses recursos será a capacidade de organizarem sistemas de informação atualizados e transparentes, que facilitem a compreensão sobre seu negócio.
Sem números
De uma maneira geral, especialmente as pequenas e médias empresas brasileiras pouca atenção deram à questão dos números. Há setores relevantes na economia, sem dispor de um indicador confiável sequer.
Os institutos de pesquisa procedem a levantamentos setoriais lentos, em cima de matrizes defasadas, calcadas no velho, que nem de longe conseguem captar os novos movimentos da economia.
Assim, novos setores dinâmicos, que estão surgindo, ficam sem acesso aos mercados de crédito e investimento por não disporem de números e diagnósticos.
A falta de indicadores terá que ser suprida pelos próprios agentes econômicos, de maneira distribuída.
O advento da Internet e os modernos recursos de microinformática facilitarão enormemente a produção de dados, acabando com a dependência dos institutos centralizados. Um bom programa de computador organiza, sem maiores dificuldades, todo o fluxo de informação das empresas. E a Internet ajuda a consolidar dados em tempo real.
Para definir indicadores setoriais, é um pulo.
Daí a necessidade de organizações empresariais (tipo Sebrae, Sesi etc.), associações setoriais, federações empresariais e agentes financeiros começarem a estimular a produção de informações setoriais, de maneira distribuída e independente.
É importante que o empresário se convença que, disponibilizar seus dados para a produção de indicadores setoriais, será fundamental tanto para o monitoramento de seu próprio negócio (por ter balizadores para pautar sua atuação) como para abrir as portas do sistema bancário para seu setor.
No sistema Sebrae, deveriam ser estimulados os cursos visando orientar os empresários na produção de dados da empresa. E os bancos deveriam começar a explicitar mais a necessidade de os clientes organizarem os dados setorialmente.

E-mail: lnassif@uol.com.br

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