São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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O que é a dependência

DA REDAÇÃO

O conceito de dependência supõe uma relação de subordinação entre partes do sistema capitalista. Isto é: entre economias "centrais" (EUA, Japão e países do Oeste europeu) e "periféricas" (América Latina, parte da Ásia e África).
Os países de economia dependente foram, em geral, colônias e tiveram um desenvolvimento industrial tardio. "Dependem", para seu desenvolvimento industrial, de capitais e tecnologia comprados no exterior, no "centro".
Mas tal financiamento e importação de máquinas não teriam sido suficientes para gerar um desenvolvimento autônomo e criar uma economia exportadora forte. O vínculo de subordinação impediria o controle das decisões sobre a produção nos países periféricos.
A síntese inicial do problema da dependência que FHC escreveu com o sociólogo chileno Enzo Faletto entre 1966 e 1967 ("Dependência e Desenvolvimento da América Latina") enriqueceu um pensamento que começou a se formar nos anos 40, na América Latina, embora não de forma sistemática.
Para os dois, o desenvolvimento da América Latina não seria determinado direta e uniformemente pela economia dos países centrais. Cada caso teria de ser analisado em separado, conforme a configuração política e social de cada país.
Mas a dependência não implicaria estagnação: "Depois da internacionalização do mercado interno (multinacionais) e da nova divisão internacional do trabalho" (que permitiu um certo nível de industrialização a países antes agrícolas), a dependência "não colide mais com o desenvolvimento das economias dependentes".
Este desenvolvimento, no entanto, não implica a idéia de maior justiça social, "mas nem por isso deixará de converter-se em uma possibilidade de desenvolvimento, ou seja, um desenvolvimento em termos de acumulação e transformação da estrutura produtiva para níveis de complexidade crescente", escrevem FHC e Faletto.
Os beneficiados desse processo seriam as estatais, multinacionais e empresas associadas a essas duas. É o chamado "tripé do desenvolvimento dependente-associado".
Em artigo para a Folha (Mais! de 28/5/95), FHC reviu a Teoria da Dependência.
Para FHC, a globalização dos mercados criou uma "interdependência", que levou tanto as economias em desenvolvimento quanto as já desenvolvidas a se tornarem dependentes.
Em consequência, o Estado, segundo FHC, perde sua função de "moldar o progresso" das economias periféricas. Endividado, torna-se, antes, um "obstáculo ao progresso".

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