São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Um robô feito para apanhar

PAULO HENRIQUE BRAGA
DE LONDRES

Uma cabeça artificial, com nome parecido com de super-herói, promete revolucionar a compreensão dos cientistas sobre as consequências dos diversos tipos de impacto no cérebro humano.
À primeira vista, o Deraman, cabeça e pescoço de material sintético, parece não ser mais que um pedaço perdido de um manequim.
Mas ele é construído com uma combinação de tecnologias desenvolvidas pelo Ministério da Defesa do Reino Unido para ajudar a analisar os processos de formação de lesões cerebrais.
"O que estamos tentando fazer é simular toda a estrutura de uma cabeça humana", disse à Folha Sandra Bell, pesquisadora da Dera (agência de pesquisas do Ministério da Defesa) e coordenadora do projeto.
"Se pudermos simular isso correta e dinamicamente e quantificar todas as reações físicas, poderemos colocar os dados em alguns cenários nos quais sabemos que ocorrem algumas lesões", disse Bell.
Segundo ela, o estudo das reações do Deraman a diversos tipos de impacto permitirá determinar os parâmetros críticos dos choques causadores de lesões e suas consequências dos impactos no tecido cerebral.
A cabeça do Deraman registra com precisão a pressão e as ondas de choque produzidas durante impactos súbitos.
Os materiais usados em sua construção -diferentes tipos de poliuretano- imitam a textura e as propriedades físicas dos componentes de uma cabeça verdadeira: pele, cérebro, crânio.
Para monitorar o comportamento das ondas de choque, o Deraman tem 95 sensores em seu interior. Conectados a um computador, eles permitem a tradução gráfica da reação das diferentes partes do cérebro aos impactos.
O potencial de utilização do boneco é bastante grande. O Deraman pode, por exemplo, ser usado para estudar os efeitos no cérebro e no pescoço de um piloto de caça obrigado a ejetar seu acento. Cerca de 50% dos pilotos ejetados sofrem lesões no pescoço, que muitas vezes os forçam a abandonar a atividade.
Se for definido com precisão que tipo de impacto a cabeça e o pescoço recebem em uma operação dessa, será possível desenvolver equipamentos de segurança que atuem com precisão na prevenção dos danos físicos.
Outra aplicação possível é o desenvolvimento de equipamentos de segurança para qualquer esporte que implique impacto ou vibração para a cabeça do atleta.
Marteladas
Por enquanto, o Deraman só está sendo submetido a marteladas, dadas com certa cautela por Bell e sua equipe de pesquisadores para que o boneco não sofra "traumatismo craniano".
A idéia é submeter a cabeça, num futuro próximo, a golpes de lutadores de boxe e caratê. Outra possibilidade é conectar o Deraman ao corpo de um boneco convencional, usado para avaliar o impacto no corpo humano causado por colisões de automóveis.
Os bonecos usados até agora em testes desse tipo simulam apenas a reação do corpo ao impacto. Eles não permitem avaliar a transmissão de ondas de tensão e de choque e os efeitos de ressonância no interior do crânio.
A Dera está em contato com empresas interessadas em usar o Deraman em projetos de interesse comercial. Um exemplo de tais projetos é a construção de capacetes protetores mais eficazes para motociclistas e pilotos de automobilismo. Outro é o design de consoles de automóvel que não permitam às vibrações danificar o cérebro ou atingir o motorista.
Cerca de 100 mil pessoas morrem todos os anos no mundo por causa de lesões na cabeça provocadas por acidentes. Outras 90 mil sobrevivem com algum tipo de sequela.

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