São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Filósofo deve continuar preso

ROBERTA BARNI
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE ROMA

Ao contrário das previsões, o professor Antonio Negri ainda vai passar pelo menos seis meses no cárcere Rebibbia, em Roma.
No começo de julho passado, a volta dele de Paris -onde se exilou por 14 anos- contribuiu para animar o Congresso italiano a analisar um projeto de lei sobre a concessão do indulto para ex-terroristas. A questão, porém, tornou a dividir o país.
Na terça-feira passada, dia 29 de julho, a Comissão para a Justiça da Câmara aprovou um projeto de lei sobre o indulto para os ex-terroristas, que prevê a redução das penas desde que os condenados não sejam responsáveis por atentados a bomba ou tenham sido foragidos.
Durante a votação, a maioria governamental, de centro-esquerda, rachou: o Partido Popular Italiano, herdeiro da ex-Democracia-Cristã, votou contra.
A coalizão da direita também declarou-se contrária, anunciando forte oposição. Após o recesso parlamentar de verão, em setembro, o projeto voltará a ser discutido e só será aprovado se obtiver dois terços dos votos no Congresso. O que, à luz dos fatos atuais, parece bastante improvável.
A direita acusa os deputados governistas de terem elaborado um dos artigos especialmente para o indulto de Negri. O professor rebateu numa entrevista ao diário "La Repubblica": "Graças a Deus este projeto não me diz respeito. Eu dependo da lei atual; se tivesse de esperar por esta nova lei, eu não sairia nem em três anos". Pela lei carcerária vigente, Toni Negri deveria estar fora da prisão em seis meses.
Giovanni Moro, filho de Aldo Moro, estadista da Democracia Cristã e ex-primeiro ministro assassinado pelas Brigadas Vermelhas em 1978, declarou: "É correto rever a legislação de emergência varada durante os 'anos de chumbo', mas não deste modo".
O Presidente da Comissão de Justiça, Giuliano Pisapia, rebateu o coro de críticas: "Ninguém quer esquecer o passado, vamos porém reequilibrar as penas da emergência". Quanto ao caso de Negri, "dele é preciso apreciar a escolha de voltar para a Itália: isto deverá ser avaliado pelo tribunal".
O relator do projeto, o deputado de Refundação Comunista Nichi Vendola, propõe que não se use a mesma ótica dos terroristas para se refletir sobre a questão: "Os terroristas atiravam num símbolo, esquecendo que o que morria era um homem. Nós, diante de 224 pessoas condenadas a penas duríssimas pelas leis daqueles anos, não podemos raciocinar como se estivéssemos diante de símbolos".

Texto Anterior: Vestígios de um lugar de liberação
Próximo Texto: O pesadelo americano
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.