São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997 |
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Presidente defende sua teoria
JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
Segundo FHC, as críticas, em geral, se referem a textos de outros autores que escreveram sobre o mesmo assunto. Essa é uma das razões pelas quais ele prefere não qualificar a Teoria da Dependência de teoria geral, mas de um conjunto de "situações de dependência". Fernando Henrique rejeita as interpretações de Lawrence Harrison e de Stephen Haber, segundo as quais ele estaria negando, com suas ações presidenciais a favor da economia de mercado e da abertura ao capital estrangeiro, os preceitos básicos da Teoria da Dependência. "Não há contradição. Eles só vêem o que querem ver", disse, em entrevista telefônica à Folha, na última segunda-feira. Sobre o capítulo do livro de Harrison a respeito do Brasil -que ele leu a pedido da reportagem-, o presidente qualificou-o de "estereotipado". Para FHC, o texto exprime idéias antigas, baseadas no culturalismo. "E tem uma mania de ver um neoliberalismo que não há", diz, em relação ao seu governo. Inquirido se essa visão norte-americana sobre o Brasil não tende a ser a que prevalecerá diante da globalização e da hegemonia dos EUA, o presidente minimizou a repercussão e a influência do meio acadêmico americano na mídia do próprio país. Ao dizer que há, nos EUA, um mosaico de teorias diferentes sobre o mesmo assunto, o presidente ironizou: "A universidade americana é um zoológico. Há um espécime de cada raça". FHC não crê no risco de o Brasil se ver à margem do processo de globalização, pela eventual prioridade que os EUA venham a dar a parceiros social e economicamente mais próximos, como Europa e Ásia. "A globalização integrou alguns países latino-americanos, como Brasil, Chile e Argentina. O problema é que a nossa integração é mais complexa, porque, ao contrário do Chile, nós temos uma economia industrial", afirma. Segundo ele, "os americanos vêem a globalização como se o mundo fosse um só. Com o fim do interesse nacional. E isso não é verdade". A inserção brasileira na economia globalizada, na opinião de Fernando Henrique, depende de dois fatores principais: desenvolvimento tecnológico e capacidade de financiamento -"algo que eu escrevi já há 30 anos", diz. Para alcançar essas condições, afirma o presidente, "o rumo está traçado": "É preciso priorizar a educação e ter fontes de formação de capital". Ele crê que essas fontes surgirão a partir da reforma da Previdência que o governo tenta aprovar no Congresso. Fernando Henrique lembra que os maiores investidores mundiais atualmente são os fundos de pensão. Sobre a adequação da Teoria da Dependência a esses novos tempos de economia globalizada, FHC afirma que "valeria a pena reescrevê-la", mas não revê-la. E justifica: o que era "externo" à economia dos países, como as empresas multinacionais, virou "interno". Afinal, são os produtos fabricados por elas que vão competir com os importados. O problema, segundo FHC, é arrumar tempo para encarar o projeto de reescrever a teoria. "Quando terminar o governo", diz o presidente, sobre a tarefa do sociólogo. Provocado se isso ainda demoraria cinco anos e meio, por causa de um eventual segundo mandato, FHC primeiro disse: "Não. Só um ano e meio". Mas riu logo em seguida. Texto Anterior: O pesadelo americano Próximo Texto: Provocação e desperdício Índice |
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