São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Aos 50, Índia e Paquistão tentam a paz

RODRIGO LEITE
DA REDAÇÃO

Divididos há exatos 50 anos, Índia e Paquistão começam neste ano um processo reaproximação que pode encerrar um dos mais longos e desgastantes conflitos do século, que inclui a ameaça de uma guerra atômica.
As duas nações formavam uma única colônia britânica até agosto de 1947. Quando os britânicos deixaram a região, os islâmicos conseguiram criar um Estado islâmico -o Paquistão, que à época incluía também o que hoje é Bangladesh.
A tensão com a Índia começou imediatamente. Os quase 4.000 km de fronteira vivem cercados de soldados, de lado a lado. Hindus que viviam no Paquistão tiveram de emigrar, e o mesmo aconteceu com muçulmanos que habitavam a Índia.
Acredita-se que até 1 milhão de pessoas tenha morrido, e mais de 10 milhões tenham abandonado suas regiões. Ilustra essa situação o fato de os atuais primeiros-ministros, Inder Kumal Gujral (Índia) e Nauaz Sharif (Paquistão), serem originários de famílias "trocadas", ou seja, que hoje seriam respectivamente paquistanesa e indiana.
A tensão levou a três guerras (1947 a 1949, 1965 e 1971), mas agora surgem os primeiros sinais de aproximação:
1) Já houve duas reuniões entre vice-chanceleres neste ano, que decidiram criar grupos para discutir as principais questões. A próxima reunião acontece no mês que vem, em Nova Déli. Os primeiros-ministros dos dois países chegaram a se encontrar neste ano, nas ilhas Maldivas.
2) Os dois países vão realizar cerimônias conjuntas, na quinta-feira, para comemorar a independência dos dois países, que vão contar com artistas e paficistas.
3) O primeiro-ministro Gujral sugeriu na última sexta-feira que os dois países reduzam seus orçamentos militares, argumentando que, se armas garantissem segurança, "a União Soviética não teria acabado".
Quase ao mesmo tempo, o seu colega paquistanês declarou que quer manter com a Índia "uma corrida econômica", em vez de uma "corrida militar".
4) A emissão de vistos foi relaxada, e já são comuns shows de artistas de um lado da fronteira no outro; em fevereiro, a maioria dos jornais indianos mandou repórteres para as eleições paquistanesas.
Caxemira, o problema
O que emperra a paz no subcontinente indiano é uma região encravada no Himalaia, com cerca de 10 milhões de habitantes e pouco maior do que o Estado de São Paulo. É a Caxemira. Uma parte dela forma o único Estado da Índia de maioria islâmica; a outra é administrada diretamente pelo governo paquistanês.
A Caxemira foi partilhada nas sucessivas guerras pelos dois países, que dizem ter direito sobre a totalidade do território. Os paquistaneses querem um plebiscito supervisionado por entidades internacionais. Acreditam que a maioria islâmica vai preferir aderir ao Paquistão.
Por conta dessa tensão, os dois estão entre os quatro países que se recusam a assinar os tratados de não-proliferação de armas nucleares (os outros dois são Cuba e Israel). A Índia já fez um teste nuclear em 1974 e, acredita-se, tem a bomba atômica. O Paquistão não desenvolveu armas e diz que seu programa nuclear é pacífico, mas argumenta que não pode assinar enquanto sofrer a ameaça representada pelo arsenal indiano.
A origem do conflito é que, quando os britânicos deixaram a Índia, após a Segunda Guerra Mundial, a Liga Muçulmana, do Paquistão, conseguiu a criação de um país independente, separado da Índia. O Paquistão ficou independente à 0h de 14 de agosto de 1947; a Índia, 24 horas depois.
A fronteira traçada refletiu apenas grosseiramente a divisão etno-religiosa do subcontinente, forçando hindus a grande onda migratória. Os moderados indianos, liderados por Mahatma Gandhi, iniciaram uma campanha contra a separação dos dois países, mas atraíram a ira dos nacionalistas dos dois lados. A separação estava consolidada.

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