São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Globalização muda a rota dos imigrantes

MARTA AVANCINI
DE PARIS

A globalização da economia e o surgimento de novos pólos de desenvolvimento estão mudando as rotas das imigrações. Esta é a principal conclusão de estudo realizado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).
A partir de dados fornecidos pelos 29 países-membros da entidade, foram realizadas análises que apontam dois movimentos básicos, resultando no desenho de um novo mapa das imigrações no mundo.
Primeiro, a queda ou estabilização do número de imigrantes em países que tradicionalmente recebem estrangeiros, como Alemanha e França. São, em geral, países com alta taxa de desemprego -acima de 10% da população- e que haviam reforçado o controle da entrada de estrangeiros.
Segundo, o surgimento de novos pólos de atração de imigrantes, como Ásia, Europa Central e países específicos, como Portugal e Espanha. Processos de crescimento econômico, aliados à estabilização política, são os principais fatores de atração.
Pólos regionais
Devido ao caráter relativamente novo desses movimentos -a OCDE fixa o ano de 1993 como marco-, ainda é difícil quantificá-los, em especial nos novos focos de atração de imigrantes. Apesar disso, há características que demarcam os novos fluxos imigratórios.
Na Ásia, a novidade reside na chamada imigração intra-regional, isto é, entre países do continente. O desenvolvimento econômico é o principal fator de atração, pois são, em geral, pessoas que deixam seus países em busca de trabalho.
Coréia do Sul, Malásia, Cingapura e Tailândia são pólos de atração. China, Filipinas, Indonésia e Sri Lanka exportam mão-de-obra.
Na Coréia do Sul, cerca de 200 mil estrangeiros entraram no país nos últimos cinco anos. Em Cingapura, estrangeiros são mais de 10% da população ativa (o país tem quase 3 milhões de habitantes).
Já na Europa Central, países como a República Tcheca, Hungria, Polônia e Bulgária atraem estrangeiros, também da própria região.
A República Tcheca teve um saldo imigratório negativo (emigração superior à imigração) em 1989 e 90. Essa tendência vem se revertendo e, em 95, havia cerca de 71 mil estrangeiros no país, que tem cerca de 11 milhões de habitantes. No mesmo ano, a Hungria emitiu autorização para 50 mil estrangeiros viverem no país.
Participação
Apesar da tendência de estabilização e redução do fluxo de imigrantes para os países-membros da OCDE, os estrangeiros ainda representam parcela importante da população desses países. Na França, eles são 6,3% dos cerca de 58 milhões de habitantes. Na Alemanha, 8,8% em uma população de 82 milhões. A participação é maior na Austrália (22,3%) e em Luxemburgo (33,4%).
Isso implica a criação de políticas de integração dessas pessoas, principalmente no mercado de trabalho, o que pode se tornar difícil, na avaliação da OCDE, em países com desequilíbrio econômico, como França e Alemanha.

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