São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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"O futuro é agora"

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Li não sei onde que imbecis e gênios têm o mesmo tipo de sonho. Plotino dizia que são muitas as identidades entre o imbecil e o gênio, donde se poderia concluir que o gênio é o imbecil que deu certo.
Bem, o assunto da crônica não são os imbecis e gênios, que abundam em todas as praças e em todos os tempos. Prefiro falar dos sonhos, responsáveis por considerável parcela do bem e do mal que acompanham a humanidade. Os gregos creditavam aos sonhos a idéia da divindade -o que mostra quão maléfico pode ser um sonho.
Freud partiu dos sonhos de suas primeiras clientes para tentar explicar o inexplicável, criou a legião de dependentes de um jargão -que é pior do que qualquer pesadelo. Allan Kardeck -em certo sentido um ancestral de Freud- também deu aos sonhos um caráter divinatório.
O Velho Testamento está cheio de sonhos -foi durante um sonho de Adão que lhe tiraram uma costela e fabricaram o primeiro agente poluidor da espécie humana. Em sonho, Jacó lutou com o Anjo e foi promovido a Israel, em sonho o faraó viu sete vacas magras e outras tantas gordas -achou a coisa tão complicada que nomeou um judeu para administrar suas finanças.
No Novo Testamento, foi em sonho que José ficou sabendo que Maria seria a mãe do salvador e em sonho ele recebeu a ordem de fugir para o Egito. Pulando do Egito para Chicago, foi em sonho que Al Capone soube que seria preso. A amante de Dillinger recebeu o aviso da emboscada fatal na saída de um cinema.
Donde se pode concluir que o sonho não nivela apenas imbecis e gênios. Nivela igualmente santos e criminosos. Hitler declarou que em sonho recebera a revelação: o futuro é agora. (Otto Dietrich, "Mit Hitler in die Macht", Munique, F.E.Verlag, 1934). Na semana que passou, repetiram por aí a mesma frase.

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