São Paulo, domingo, 10 de agosto de 1997
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Êxtase Amoral

ANDRÉ FISCHER

É possível falar de temas como consumo de drogas, homossexualidade e incesto sem resvalar em um discurso moralista ou apologético? Apoiado no sucesso comercial de suas peças teatrais, livros infanto-juvenis e da novela Xica da Silva, o escritor Walcyr Carrasco decidiu arriscar uma visão acima do bem e do mal na peça "Êxtase" ao abordar uma questão fundamental na sociedade moderna: se você gosta, qual o problema?
A trama reúne dois (belos) rapazes trancafiados em um apartamento fazendo de tudo, inclusive se prostituindo, para obter todas as drogas do cardápio contemporâneo, até que são flagrados pela mãe de um deles e obrigados a improvisar um discurso "consistente".
Em tom de comédia, o espetáculo relativiza os pontos de vista de doidões e caretas, mas deixa clara a posição do autor de que opção cabe a cada um.
Ao se observar o cotidiano da forma que propõe Carrasco, fica claro que a repressão aos impulsos mais íntimos acaba criando seus próprios monstros. Homossexuais enrustidos que extravasam sua culpa surrando travestis e a polícia que prendeu a drag Alma Smith, acusando-a de formação de quadrilha, certamente constituem uma máfia mais nociva e perigosa.
Aproveitando a deixa, vale um P.S.: foi divulgado recentemente estudo sobre os perigos reais do consumo de E, LSD e GHB (o ecstasy líquido) por usuários do coquetel anti-HIV. Ao que parece, os inibidores de protease criam uma hipersensibilidade no fígado que já teria causado algumas morte por overdose com a ingestão de apenas um comprimido de ecstasy.

ONDE ENCONTRAR "Êxtase": Studio 184, praça Roosevelt, 184, quinta a domingo, 21h. R$ 15.

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