São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Pop de Minas renega o clube da esquina

ALEXANDRE LOURES
ENVIADO A ESPECIAL BELO HORIZONTE

Depois de ganhar notoriedade com o clube da esquina -movimento musical dos anos 70 que notabilizou artistas como Milton Nascimento, Beto Guedes, Lô Borges e Flávio Venturini- e de passar os anos 80 quase em branco, Minas Gerais volta a projetar sua música nacionalmente.
Quem pensa que o responsável pela retomada é o revival de Milton Nascimento e cia., a exemplo do que acontece com outros músicos como Zé Ramalho, está enganado.
Pelo menos para as novas caras da música mineira, o clube da esquina está sepultado. E faz tempo.
Bandas como J. Quest, Virna Lisi, Pato Fu e Tianastácia que, juntamente com o pioneiro Skank, formam o novo panorama do pop das Alterosas, tiveram nos amigos de Santa Tereza -bairro onde o famoso clube se reunia- uma verdadeira "antiinfluência" musical.
"Se eles falavam em roupa no varal e em janela lateral, nós queríamos falar de Ferrari", afirma John, guitarrista do Pato Fu.
Segundo ele, as músicas do clube da esquina se tornaram uma trilha sonora do Estado e acabaram por estigmatizar toda a criação musical mineira.
Para Samuel Rosa, vocalista do Skank, esse rótulo prejudicou as bandas de Minas nos anos 80, quando houve o estouro do rock pop brasileiro liderado por Blitz, Lobão e Paralamas do Sucesso.
"Todo grupo que surgia em Belo Horizonte tinha que carregar esse preconceito nas costas", afirma.
E, nessa época, todas as pessoas que hoje compõem o cenário pop mineiro já estavam na estrada.
John, do Pato Fu, tinha uma banda chamada Sexo Explícito; César e Ronaldo Gino, do Virna Lisi, eram do conjunto O Saída; Samuel Rosa e Henrique Portugal, do Skank, tocavam no Pouso Alto.
"Existia por aqui uma cena underground muito maior do que agora, mas acontece que ninguém estourou", afirma César Maurício, vocalista e letrista do Virna Lisi.
Parte dessa realidade teria sido causada pela incapacidade de a indústria fonográfica assimilar estilos diferentes vindos da terra do "Coração de Estudante".
"É algo como acontece hoje com o axé na Bahia", lembra Igor Rockford, guitarrista do grupo Os Baratas Tontas (leia texto abaixo).
Binômio
Mas, se por um lado os mineiros tentam esquecer o que chamam de década perdida, por outro parte da força das novas bandas é creditada ao fracasso dos anos 80.
Segundo John, que por dez anos foi da banda Sexo Explícito, a experiência que adquiriu nos 80 foi fundamental para o sucesso atual.
Marco Túlio, do J. Quest, diz que a "estrada" o ajudou a amadurecer e a criar estrutura técnica e pessoal para atingir o nível atual.
Juntando em um caldeirão fatores como o estigma criado pela velha guarda e a experiência adquirida na década passada, pode-se entender a música mineira de hoje.
"Existia em Minas uma concentração muito grande de músicos experientes, mas faltava alguém fazer sucesso para as pessoas perceberem", diz Samuel.
O pontapé inicial coube ao próprio Skank, que lançou, em 92, um disco independente pelo selo Chaos, da Sony, com 3.000 cópias de tiragem inicial. Relançado um ano depois vendeu 150 mil.
É opinião comum que o "fator Skank" abriu os olhos do Brasil para Belo Horizonte e proporcionou o aparecimento de outros grupos musicais vindos de lá.
O Pato Fu, por exemplo, já lançou três discos, com 50 mil cópias vendidas cada. Já emplacou hits dos três CDs e tem quase uma dezena de fãs-clubes no país.

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