São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 1997
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Lata de sardinha

JOSIAS DE SOUZA

São Paulo - "Perigo! Perigo!" Quem não se lembra dele? "Perigo! Perigo!" Está-se falando daquele robô de "Perdidos no Espaço". Os Robinson estão em apuros? Não há o que temer. Movimentos frenéticos, voz metálica, o robô dará o alarme: "Perigo! Perigo!"
Corta para a cidade de São Paulo. "É perseguição política! É perseguição política!" O que se está ouvindo agora é a voz de Celso Pitta, perdido no espaço ermo da prefeitura. Cofre raso, obras às moscas, PAS e Cingapura sob ameaça. O cenário à sua volta é mesmo desolador.
O Banco Vetor alugou carro para Nicéia? "Não tem registro, não tem registro." Olhar compungido, Pitta desvia de microfones e gravadores. O Vectra foi comprado com cheque de doleiro? "É perseguição política. É perseguição política!" Há furos no Imposto de Renda? "É Perseguição!" Frangos? "Perseguição!" Precatórios? "Perseg..."
Pitta e o robô da família Robinson têm muito em comum. Ambos vieram da ficção. O robô foi criado pelo americano Irwin Allen. Surgiu na década de 60. Pitta é obra de Paulo Maluf. Ganhou forma na última campanha, nos computadores de Duda Mendonça. Invadiu a TV em meio a uma atmosfera de Disney World, entrecortada por trenzinhos virtuais, sacudida por efeitos especiais.
Pitta e o robô não têm existência fora dos limites do roteiro que lhes foi previamente traçado. O destino do robô é o de servir aos Robinson. O de Pitta é o de atender aos interesses do malufismo.
Assim, se há descalabros na gestão passada, Pitta jamais poderá pôr a culpa em Maluf. Se falta dinheiro, não poderá responsabilizar a administração anterior, da qual foi secretário de Finanças. Por isso repete, à exaustão, o bordão da perseguição política. Um único detalhe distingue Pitta do robô da série. Falta-lhe alguém como Zachary Smith. Só para lembrar-lhe que robôs não passam de "latas de sardinha".

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