São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 1997
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Chega a armada espanhola

CELSO PINTO

O Banco Bilbao Viscaya, BBV, maior banco espanhol em patrimônio líquido (US$ 19 bilhões), espera concluir, nos próximos dois meses, a compra de um banco no Brasil. Essa é a expectativa da direção do banco, se não hou ver obstáculos por parte do Banco Central.
O Santander, segundo maior banco espanhol em patrimônio (US$ 13 bilhões) e primeiro em ativos, já fechou negócio com o Banco Geral do Comércio e está concluindo negociações para comprar o Noroeste. O melhor da armada espanhol na área financeira, portanto, quer ter uma fatia importante do mercado brasileiro, depois de ter entrado agressivamente no mercado latino-americano nestes últimos dois anos.
O alvo do BBV é um banco de porte médio. Os espanhóis têm conversado com várias instituições, com a ajuda de um banco de investimento americano como seu "advisor". Sabe-se que o BBV chegou a conversar com o Banco Real, que não se interessou.
No mercado, fala-se em três nomes como eventuais alvos do BBV, o Bandeirantes, o Boavista e o BCN. O BCN, contudo, que havia flertado seriamente com o BBA, parece ter optado por consolidar-se sem parceiros: depois de absorver o Itamaraty, acabou de comprar o Credireal.
Depois que comprou o Banco de Crédito Argentino, há pouco menos de dois meses, o BBV disse que sua prioridade passava a o Brasil e que dispunha de US$ 1 bilhão para investir. Hoje o BBV tem uma equipe dedicada em tempo integral à entrada no mercado brasileiro, ligada diretamente à direção do banco.
A investida dos dois maiores bancos espanhóis na América Latina tem sido impressionante. No último ano e meio, o BBV comprou oito bancos na América Latina, a um custo de US$ 1,5 bilhão. Esses bancos, somados, representam hoje o dobro do número de funcionários e de agências que o BBV tem na Espanha.
A estratégia do BBV tem sido a de abocanhar fatias expressivas dos mercados comprando vários bancos médios. Comprou, por exemplo, o Banco Francês Rio de La Plata, o terceiro maior na Argentina, em dezembro, e, há dois meses, o Banco de Crédito Ar gentino, o quinto maior. Ficou com o maior banco argentino por patrimônio. Por ativos, a liderança do mercado argentino ficou com o Santander, depois da compra do Banco Rio de La Plata.
O BBV comprou três bancos no México, além de bancos na Venezuela, Colômbia e Peru. O Santander, por sua vez, tem presença importante na Argentina, Chile, México e Peru.
A lógica da invasão espanhola, na visão de quem acompanha de perto o processo, é consolidar o domínio do mercado latino-americano como diversificação para uma concorrência cada vez mais acirrada no mercado espanhol, especialmente com a unificação monetária européia. Diz a fonte que o BBV imagina que, em alguns anos, até 80% de seus lucros poderão vir da América Latina.
A estratégia do BBV é ter participações minoritárias em várias grandes empresas espanholas, muitas das quais já estão com o pé no Brasil. Ele é dono de 7% da Telefonica de España, que comprou uma fatia do capital da Companhia Riograndense de Telecomunicações e que é dona de teles na Argentina, Chile, Peru e Venezuela. O BBV tem cerca de 10% da Iberdrola, que acabou de arrematar a Coelba, a energética baiana. Tem participação também na Repsol, empresa petrolífera espanhola, uma das sócias da Gás Natural, empresa que arrematou a Companhia Estadual de Gás do Rio.
A entrada dos espanhóis no varejo bancário, depois do gigante HSBC, tornaria ainda mais complicada a concorrência para os grandes bancos brasileiros. Falta saber qual será a atitude do BC. Até agora, as autoridades vinham condicionando a entrada de grandes bancos estrangeiros à solução de algum problema, a um "pedágio", como foi o caso do HSBC, que absorveu o Bamerindus.
A internacionalização do mercado financeiro latino-americano, de todo modo, já é uma realidade e o Brasil não deverá ser uma exceção. É um mercado de enorme potencial, com baixo índice de depósitos e créditos em relação ao PIB. A chave do negócio é ter acesso a dinheiro barato e isso os estrangeiros têm.

E-mail: CelPinto@uol.com.br

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