São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 1997
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Ato atrai familiares de vítimas da violência

ANDRÉ LOZANO; LUCIANA SCHNEIDER
DA REPORTAGEM LOCAL

O lançamento da campanha de desarmamento, ontem, na Faculdade de Direito da USP, no largo São Francisco (centro de São Paulo), atraiu familiares e pessoas próximas de cidadãos que foram vítimas de violência em São Paulo.
Esteve presente ao ato Bya Aidar, ex-namorada do médico Milton Jacob Bechara, 38, que foi assassinado, no último dia 3, com um tiro no rosto dentro de seu Vectra, quando passava pela rua Prestes João, no Ibirapuera (zona sudoeste de São Paulo).
Segundo os organizadores da campanha, Bya foi a principal responsável pelo fato de várias personalidades terem decidido aderir à campanha.
Bya, que é promoter, namorava havia dois anos Bechara. O médico participou da elaboração do plano de governo dos então candidatos Fernando Henrique Cardoso (Presidência da República) e Mário Covas (governo de São Paulo).
Tiro na cabeça
Também esteve presente ao ato Norma Elias, mãe de Paulo Sérgio Elias Costabile, que morreu com um tiro na cabeça, no dia 15 de fevereiro de 94, na rua Henrique Schaumann, após sair de uma partida entre Corinthians e Palmeiras. Ele estava acompanhado do amigo, o tenista Jaime Oncins.
"A violência acabou com meu filho, com a sua família e com a carreira esportista do amigo tenista, que desde a tragédia não conseguiu melhorar sua posição no ranking mundial", disse Norma.
"Uma arma na mão de um cidadão é pior do que na mão de um bandido", disse Norma. Segundo dados da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil), de cada 16 pessoas armadas que reagem a assaltos, 15 acabam feridas ou mortas.
Bala perdida
Karina Pereira do Carmo, 17, foi uma das vítimas de bala perdida na semana passada, em Caxingui (zona sudoeste).
Ela estava saindo do supermercado Pão de Açúcar, localizado a duas quadras de sua casa, quando começou um tiroteio entre um ladrão e o segurança do supermercado.
"Quando ouvi os tiros, me abaixei imediatamente. A bala acertou as minhas costas, perfurando o meu pulmão. Só não pegou no meu coração porque, segundo o médico, ele estava contraído. Acho que foi um milagre", diz Karina, que sofreu uma cirurgia e se recupera em casa desde anteontem.
Apesar de a adolescente ainda estar um pouco assustada com tudo o que aconteceu -ainda tem medo de voltar ao supermercado-, sua mãe, Vera Regina Marques Pereira, 42, acha que a violência já é uma coisa comum para a classe média.
"Foi-se o tempo em que a violência era coisa só da periferia. O que é nós vamos fazer? Não dá para nos prevenirmos. Não sabemos se levaremos um tiro amanhã ou não. Isso é imprevisível", afirma Vera.
A mãe diz que ainda não sabe quem foi o autor do tiro.
Mesmo sem saber quem foi, ela afirmou que muitas pessoas não estão preparadas para usar uma arma.
(ANDRÉ LOZANO e LUCIANA SCHNEIDER)

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