São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 1997 |
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São Paulo recebe tesouro dos Windsor
ANDREA FORNES
A mostra do Masp reúne cerca de 120 peças das mais de 40 mil que a casa de leilões colocará à venda em 18 sessões entre os dias 11 e 19 de setembro, em Nova York. O leilão, que está sendo promovido como "o capítulo final da mais celebrada história de amor do século 20", deve arrecadar, segundo estimativas da Sotheby's, algo entre US$ 5 milhões e US$ 7 milhões. O total será revertido à caridade infantil. Por mais de cinco anos, um grupo de 60 especialistas da Sotheby's catalogou os objetos da residência parisiense do casal. Localizada no Bois de Boulogne (entre os limites da zona oeste de Paris e o rio Sena), a "villa" que data da virada do século foi usada durante o exílio, após sua abdicação ao trono menos de um ano depois da coroação, um dos maiores escândalos a atingir a família real britânica. Foi como rei Eduardo 8º que ele renunciou à coroa, em 11 de dezembro de 1936, pelo amor a Wallis Warfield Simpson, uma norte-americana divorciada com quem se casaria. A propriedade está hoje nas mãos do empresário egípcio Mohamed al-Fayed, dono da sofisticada loja de departamento Harrods, de Londres, e do luxuoso hotel Ritz, de Paris. A mansão pertencia ao Instituto Pasteur, principal beneficiário do testamento da duquesa morta em 86 aos 89 anos. Mais espaço Al-Fayed comprou as peças e obteve permissão do então prefeito de Paris, Jacques Chirac, para alugar a casa, restaurando-a e transformando-a em museu particular no ano de 1989. Sua família tem ocupado apenas o andar superior da residência. Agora, sob o pretexto de que necessita de mais espaço, ele resolveu abrir mão dos objetos. "Foi uma decisão bastante difícil me desfazer dessas coisas que eu adoro. No entanto, tenho uma família cada vez maior. Até agora, minha família usou apenas o apartamento no último andar da casa. Decidi pelo leilão porque gostaria de passar a aproveitar melhor a residência do duque e da duquesa de Windsor em vez de restringir o uso que a minha família pode fazer dessa maravilhosa casa. A renda obtida irá para a Fundação de Caridade Internacional Al-Fayed, que contribui para as causas dos necessitados, entre elas pesquisa médica para doenças infantis, hospitais e orfanatos", explicou o empresário. Segundo os tablóides do Reino Unido, seria com Dodi al-Fayed, um dos herdeiros do magnata, que a princesa Diana estaria vivendo atualmente uma história de amor. Charles e Camilla Apesar de ter se tornado duquesa após o casamento, a americana plebéia (nascida Bessie Wallis Warfield) nunca recebeu, ao contrário do marido, o tratamento de alteza real. "Essa discriminação foi um golpe para o duque de Windsor, que tentava fazer com que ela fosse aceita assim como o príncipe Charles faz agora com sua amante, Camilla Parker-Bowles", diz Pedro Corrêa do Lago, 39, representante da Sotheby's no Brasil. O título de duque de Windsor lhe foi dado, após a renúncia, por seu irmão Albert (George 6º), pai da rainha Elizabeth. Entre os objetos mais interessantes oferecidos em 3.200 lotes está a mesa de mogno retangular do século 18 sobre a qual o rei Eduardo 8º assinou a abdicação "pela mulher que eu amo". A estimativa é que a peça supere a cifra de US$ 50 mil. O objeto mais valioso do leilão da Sotheby's é o retrato "Forest Witch" do príncipe de Gales, um dos muitos títulos do duque de Windsor (1894-1972), que Alfred Munnings pintou em 1921. O lance final no leilão deve ultrapassar os US$ 800 mil. A Sotheby's exibe todas as peças por apenas um dia (5 de setembro) antes da venda. O Masp estará mostrando, entre as obras de arte da coleção, "Paysage", de Edgar Degas, com estimativa variando entre US$ 60 mil e US$ 80 mil. Além de peças artísticas e de decoração, o leilão contará com objetos de uso pessoal do duque e da duquesa, como um fraque da década de 30 (cotado entre US$ 3.000 e US$ 5.000) e um vestido de brocado dos anos 50 (entre US$ 700 e US$ 900), ambos apresentados na exposição em São Paulo, amanhã e quinta-feira. Os mesmos ternos A duquesa de Windsor, lembrada por sua elegância e estilo discretos, figurou na lista das pessoas mais bem vestidas por 40 anos. De seu guarda-roupa serão leiloados modelos criados por Christian Dior, Givenchy, Yves Saint-Laurent, Chanel e Madame Grès, entre outros estilistas, casacos de pele, luvas, bijuterias, lenços e echarpes, chapéus, bolsas (algumas com monograma), malas de viagem, sapatos e óculos escuros. As curiosidades vão de um embrulho com fita que contém um pedaço do bolo do casamento real (em 1937) a um troféu do Santos Golf Club que o duque, à época príncipe de Gales, herdeiro do trono britânico, ganhou em 26 de março de 1931 durante uma viagem ao Brasil. Trabalho manual Corrêa do Lago destaca também a almofada (avaliada em US$ 3.000) que teria sido bordada em ponto-cruz pelo próprio duque de Windsor. A peça faz parte da exposição, que será aberta hoje com um coquetel para convidados. Outro objeto que revela a intimidade da família é o boneco de pano feito a mão, datado de 1900, que o duque de Windsor ganhou quando era criança e que costumava manter a seu lado na cama. O lance do mimo pode superar US$ 1.200. Como o casal tinha adoração por cachorros há diversas peças com esse motivo: figuras de porcelana, quadros e almofadas. No quarto da duquesa, arrumada sobre o sofá, havia uma fileira de nove almofadas em tamanho natural de algodão com formato e desenho de pugs (buldogue anão), a raça favorita deles. Cada uma das almofadas deve alcançar cerca de US$ 400. A Sotheby's produziu para o leilão de setembro um catálogo completo em três volumes que totalizam 1.200 páginas e 2.000 ilustrações. Ele está à venda e custa US$ 90. Nele, estão algumas das fotografias do arquivo que reúne mais de 10 mil imagens da família real britânica. As fotos foram descobertas durante uma reforma, escondidas em uma banheira coberta na casa de Paris. Jóias em leilão Com extraordinária intensidade, a coleção documenta a infância de Eduardo, sua juventude, quando era considerado talvez o mais popular príncipe de Gales até aquela época, seu breve reinado (entre 21 de janeiro e 11 de dezembro de 1936) como rei Eduardo 8º e sua abdicação, incluindo a conquista e casamento com Wallis Simpson, a duquesa de Windsor, e os anos em Paris, período em que foram líderes da sociedade e figuras-chave da moda do século 20", diz Diane Brooks, presidente e executiva-chefe da Sotheby's. A casa de leilões foi a mesma que organizou, em 1987, a venda das jóias da duquesa de Windsor. Além das fotos, fazem parte da coleção medalhas, buttons e outros documentos da carreira militar do príncipe de Gales, que serviu na Primeira Guerra e comandou as Forças Armadas britânicas como rei. As memórias das viagens do herdeiro do trono britânico também são uma importante parte do acervo, inclusive as que fez à America do Sul em 1925 e 1931. Entre os seus pertences, está um mapa da Província de São Paulo ("Carta Geral do Estado de S. Paulo Brasil 1930") com que foi presenteado durante uma das visitas e agora avaliado em cerca de US$ 800. "Nunca os pertences de um rei foram a leilão porque seus objetos pessoais vão sendo herdados e guardados, principalmente os do rei da Inglaterra, que ainda é a família mais fechada do mundo e que está à frente de uma grande potência", afirma Corrêa do Lago ao explicar a importância da venda organizada pela Sotheby's. O leilão possibilita uma imersão total na vida do duque e da duquesa de Windsor, revelando sua intimidade, algo inédito em se tratando da família real britânica mesmo com o assédio permanente dos tablóides hoje em dia. O quê: Duque e Duquesa de Windsor - Destaques da coleção a ser leiloada pela Sotheby's em Nova York Onde: Museu de Arte de São Paulo (Masp) (av. Paulista 1.578, tel. 251-5644) Quando: amanhã e quinta-feira, das 11h às 18h. Hoje, coquetel apenas para convidados Catálogo: pode ser obtido pelo telefone (203) 847-0465, em Connecticut, EUA) Texto Anterior: 64 foi um pesadelo de realidade que pode voltar Próximo Texto: Cafés Filosóficos chegam ao Brasil Índice |
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