São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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Deputado afirma gastar salário desviado com viagens e aluguel

Chicão Brígido diz que se fosse desonesto estaria melhor

LUCIO VAZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado Chicão Brígido (PMDB-AC) relatou como utiliza os R$ 8.000 que desvia do salário dos funcionários do seu gabinete.
Afirmou que cerca de R$ 3.000 são usados com "gastos políticos" feitos em seu Estado, R$ 1.000 com o aluguel de uma casa em Brasília, R$ 2.000 com salários de "gente que recebe por fora do gabinete". O desconto para o Imposto de Renda, disse, fica em R$ 2.000.
Chicão afirmou não acreditar que terá seu mandato cassado. "Eu não sou uma pessoa desonesta. Quem convive comigo sabe disso. O presidente da Casa (Michel Temer) sabe muito bem disso."
Ao relatar a sua história política, chorou durante mais de dois minutos. E fez um pedido: "Eu queria que você me ajudasse a mostrar para o Brasil quem é o Chicão".
*
Folha - O sr. vem hoje à Brasília?
Chicão Brígido - Eu estava avaliando o seguinte: é bom ficar um pouco na base. Estão tentando colocar que o Chicão é uma pessoa desonesta, que está fazendo do mandato um balcão de negócios.
Não tem nada a ver. Quando eu coloco, por exemplo, que R$ 8.000 é gasto do nosso gabinete, fora das pessoas que recebem, a gente tem dito o tempo todo: daquilo, você recebe líquido uns R$ 6.000. Com R$ 1.000 nós pagamos o aluguel de uma casa em Brasília, para as pessoas doentes que viajam para lá. Você paga uns R$ 2.000 para gente que recebe por fora do gabinete. E os outros R$ 3.000 você gasta com os gastos políticos.
Folha - O que seriam os gastos?
Chicão - Por exemplo, se eu vou ali no interior do Estado, quem vai pagar as minhas contas lá? Eu vou comprar uma passagem de avião, uma pessoa pede uma coisinha e outra. Os gastos políticos são isso.
Folha - Refeições, gasolina, esse tipo de coisa também?
Chicão - É. Eu desafio um político que gaste menos de R$ 3.000, R$ 4.000, R$ 5.000 para manter um escritório político.
Folha - Agora, os 16 funcionários que você tem cadastrados não são suficientes para o trabalho?
Chicão - Não. O problema é quantas pessoas ficam no Estado, quantas você tem que pagar por fora. São pessoas que estão com você, que não tem como não ajudar. Eu levanto um debate interessante. Quanto um deputado precisa ganhar para manter os gastos?
Folha - Seria o caso de ter uma verba de representação para isso?
Chicão - Exatamente, exatamente. Tem que ter isso, porque você não consegue manter o escritório com o seu salário.
Folha - E como os outros deputados fazem?
Chicão - Não quero entrar nesse mérito. É muita falta de bom senso querer mentir para a população e dizer que um deputado vive com R$ 5.000.
Folha - Esse desconto do salário dos funcionários estaria acontecendo em outros gabinetes?
Chicão - A questão é a seguinte: é a honestidade do deputado Chicão. E o deputado Chicão não é uma pessoa desonesta. Se eu fosse desonesto, estaria muito melhor.
Folha - Será aberto um processo na Câmara para julgar seu caso. O sr. pensou em renunciar?
Chicão - De maneira nenhuma eu pensei em renunciar.
Folha - O sr. não acredita que cassem seu mandato em plenário?
Chicão - Lucio, meu irmão, seria uma coisa muito... eu não diria nem covarde, mas muito dolorida. Eu não acredito. O que o deputado tem que identificar é isso: eu não sou uma pessoa desonesta. Quem convive comigo sabe.
Eu queria que um dia alguém tivesse a coragem de saber quem é o Chicão Brígido. A prova é que estou há cinco anos na vida pública e mais pobre do que quando entrei.
Hoje, o que se tenta passar para o Brasil é que eu sou um grande sacana. Minha grandeza é tão grande que eu me afasto da Câmara para servir aquela mulher (Adelaide Neri, suplente de Brígido e que assumiu seu mandato entre 6 de maio e 7 de agosto), consciente de que estaria tendo prejuízo, num momento em que se vislumbrava uma convocação extraordinária.
E ela, de forma covarde, começa a conspirar. Eu quero que você saiba que está conversando com uma pessoa grande, honesta, que tem princípio, que tem história. Quando analiso a minha história, a minha luta... (o deputado começa a chorar) Desculpa aí, tá cara.
Folha - Não tem problema.
Chicão - (o deputado chora por 1 minuto) Então, Lucio... (o deputado chora durante mais 45 segundos) Eu queria que você me ajudasse a mostrar para esse Brasil quem é o Chicão.
Folha - Tudo bem.
Chicão - Queria, quando chegasse aí, ter uma conversa com você, para você fazer uma avaliação mais aprofundada da gente. Para saber quem é o político Chicão.
Folha - A gente conversa.
Chicão - Tá bom meu irmão, um abraço. Me desculpe aí.

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