São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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O balanço dos chutes

JANIO DE FREITAS

O "balanço" do suposto programa governamental "Brasil em Ação", inventado para remediar o ponto fraco da campanha reeleitoral de Fernando Henrique Cardoso, que é a inoperância administrativa do governo, não resiste nem à confrontação com os atos dos seus próprios propagandistas.
Esse ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, que em dois meses e meio percorreu 41.600 km fazendo propaganda do "Brasil em Ação", como Lucio Vaz revelou na Folha, é o mesmo que no final da semana passada, estando de passagem por Brasília, levou ao seu colega Antonio Kandir um problema urgente e uma queixa aflita.
Padilha é mais do que responsável por grande parte do tal "Brasil em Ação". Ao fazer a recente promessa de restaurar imediatamente toda a rede rodoviária brasileira e, ainda por cima, construir vastos milhares de novas e modernas rodovias, Fernando Henrique jogou em Padilha uma tarefa cobrável e um prazo opressivo.
Mas os meses citados por Fernando Henrique se esgotam e Padilha mal conseguiu disfarçar uns buraquinhos. O governo não lhe dá verbas, nem para as aparências. Foi pedir algum a Kandir, que manipula o Orçamento. Nada.
Partiu para a queixa aflita: sem fazer pelo menos o suficiente para jornais e TVs dizerem que Fernando Henrique cumpriu o prometido, ele, Padilha, é que ficará exposto às críticas até do próprio Fernando Henrique. E exposto, portanto, à demissão. Nada. Padilha saiu do encontro sem um tostão a mais do que tinha ao chegar.
Isso é o lado do "Brasil em Ação" que Fernando Henrique e seus ministros não contam, porque acabariam cometendo verdades.
Mentiras a mais
O divórcio entre o governador Vitor Buaiz, do Espírito Santo, e o PT pelo qual se elegeu é o desfecho apropriado, enfim, para uma situação vulgar e sempre resolvida por meios baixos, como a compra e venda.
As divergências entre Buaiz e a representação estadual do PT precipitaram reações, por parte da oposição petista ao governador petista, tão exageradas quanto politicamente primárias. Mas a origem do problema não está na divergência, está na concordância.
Para ver-se escolhido candidato e, depois, mobilizar o PT e as esquerdas a ponto de vencer a rica resistência à sua eleição, Vitor Buaiz só falou de ações e soluções aceitáveis pelos petistas e seus demais apoiadores. O Espírito Santo já estava cheio de dívidas, de déficit e de uma folha de pessoal mais do que sobrecarregada.
Empossado, Buaiz mal esperou pelos primeiros meses de governo para substituir as ações e soluções do candidato por propostas inspiradas nas "reformas" do governo federal. Se mentiu como candidato ou, como governador, descobriu que suas idéias estavam erradas (em um ou outro caso, foi eleito por erro), Buaiz fez o que é vulgar nas eleições e governos: enganou o eleitorado.
O PT estadual reagiu com a maneira mais vulgar nas reações petistas, seja ao que for.
Um lado só
Na briga de Pelé e Havelange não há o lado do mocinho.

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