São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Remédios para emagrecer

ALFREDO HALPERN

Poucas áreas da medicina têm tanta discussão e tanta exposição aos meios de comunicação como aquela que trata do uso de remédios para emagrecimento.
De um lado, a possibilidade do uso de novos medicamentos ocupa um lugar de destaque na mídia, sendo inclusive assunto de capa e sugerindo a cura definitiva; de outro lado, a constatação de efeitos indesejáveis das drogas é também amplamente divulgada.
O mesmo acontece com outras doenças. Nesses casos, no entanto, o destaque na mídia é infinitamente menor. Por que, então, essa preferência pela abordagem dos remédios para emagrecer?
A meu ver, a resposta está na preocupação generalizada com o peso e na própria conceituação do obeso, que ainda hoje é considerado como um ser desprovido de caráter, de autocontrole, causador único e exclusivo, enfim, de seu excesso gorduroso -conceitos absolutamente destruídos pelos conhecimentos científicos atuais.
A obesidade é considerada pelos profissionais que lidam seriamente com o problema, em âmbito mundial, como uma doença -doença, sim- crônica, cuja prevalência vem aumentando de uma maneira epidêmica.
Além disso, a experiência ensina que, embora haja amplo conhecimento de que os pilares mestres no tratamento da obesidade sejam uma dieta com menos calorias e um aumento na atividade física, o resultado prático da sua aplicação é frequentemente frustrante.
Esses fatos pressupõem, portanto, que uma parte da população acometida pela obesidade deva tomar medicamentos. Há evidências muito fortes de que, com a perda de peso, haja uma significativa diminuição na possibilidade de os indivíduos obesos apresentarem doenças cardiovasculares.
Admito que haja uma exagerada prescrição de medicamentos no Brasil. O apelo da magreza com forma de beleza e a charlatanice atraída pela possibilidade de lucros fizeram e fazem com que tenhamos enormes cifras de consumo de substâncias anorexígenas (supressoras do apetite).
Há por outro lado, uma exagerada campanha contra o uso de medicamentos para o tratamento da obesidade, veiculada por pessoas que ainda mantêm a visão tradicional da obesidade como uma consequência da falta de caráter.
É no equilíbrio entre essas posições antagônicas -superutilização por razões comerciais e subutilização nos casos realmente necessitados- que se deve basear o médico. Cada caso é um caso, como em outras doenças.

Texto Anterior: Visita do papa faz governo atrasar início do horário de verão
Próximo Texto: Cliente quer reembolso do Banco Itaú
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.