São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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Adolescente confessa ter matado 4

DA REPORTAGEM LOCAL

O adolescente A.R.C., 17, o "Beco", foi preso ontem de manhã na Vila Formosa (zona sudeste de São Paulo) e confessou ter matado a tiros quatro pessoas e baleado outra no dia 4 de agosto.
A chacina aconteceu em um cortiço na rua Saboó, Vila Carrão (também na zona sudeste). Morreram Wagner Casimiro dos Santos, 22, Marcelo Antonio dos Santos, 23, Sandro Rogério da Silva, 23, e Juarez Novaes Júnior.
Valter Alves da Silva, o "Mazaropi", levou um tiro na cabeça e está internado em coma no Hospital do Jabaquara.
A.R.C. afirmou à polícia que cometeu o crime por ciúmes. Ele esteve detido na Febem por porte ilegal de arma entre os dias 17 de junho e 22 de julho.
Neste período, sua namorada teria passado a frequentar o cortiço e mantido relações sexuais com dois dos baleados -Mazaropi e Wagner. "Fui tirar satisfação e eles disseram que iriam me matar. Então, decidi matá-los", afirmou o adolescente (leia entrevista ao lado).
A.R.C. disse que cometeu o crime sozinho, após comprar um revólver calibre 38 e 14 balas por R$ 200. Mas a polícia não aceitou totalmente essa versão.
"Apesar de as testemunhas não terem falado nada sobre outro assassino, acho difícil ele ter atirado sozinho em cinco homens fortes. Mas não é impossível que ele tenha agido só", afirmou o delegado Arli Antônio Reginaldo, da equipe C-Leste da Divisão de Homicídios da Polícia Civil.
A.R.C. já havia sido detido sete vezes e levado à Febem, mas conseguiu escapar todas as vezes.
Investigação
Reginaldo disse que, inicialmente, a polícia acreditou que a chacina tivesse sido motivada por uma cobrança de dívida de drogas.
Segundo ele, as cinco vítimas seriam viciadas e estariam fumando crack no momento do crime.
Mas essa hipótese foi descartada porque a polícia descobriu que o traficante que vendia droga no bairro era amigo das vítimas.
Então, Reginaldo começou a investigar a informação de uma testemunha, que disse à polícia que uma das vítimas havia gritado, antes de morrer: "Não faça isso comigo, Beco".
Reginaldo levantou na polícia e na Febem as fichas criminais de todas as pessoas com o apelido Beco que já haviam sido presas. Assim, descobriu que havia um fugitivo da Febem com esse apelido.
Ontem de manhã, com um mandado de busca e apreensão, a polícia foi à casa de A.R.C.. Ele confessou o crime e foi levado à Divisão de Homicídios. Ontem à noite, ele seria transferido para a Febem.
"Em 22 anos de polícia, nunca vi alguém tão jovem cometer um crime bárbaro e confessar tudo com tanta frieza", afirmou Reginaldo.
Caçula
Mais novo de uma família de nove irmãos, A.R.C. começou a "dar trabalho" aos 12 anos, quando abandonou os estudos na 6ª série e passou a fumar crack, segundo sua mãe, a dona-de-casa Carmen Lúcia Carvalho, 50.
"Não entendo por que ele é assim. Criei todos os filhos da mesma maneira e só ele virou bandido", declarou Carmen, que, como seus filhos, é evangélica da Congregação Cristã do Brasil.

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