São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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'Se não matasse, iria morrer'

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Detido em uma sala da Divisão de Homicídios, o adolescente A.R.C., 17, o "Beco", confessou ter matado quatro pessoas. Ele também afirmou que furta desde os 12 anos, assalta desde os 15 e esteve detido oito vezes na Febem.
Beco não está arrependido de ter matado. "Se eu não matasse, iria morrer", disse.
Veja os principais trechos de sua entrevista.
(OC)
*
Folha - Por que você atirou nas cinco pessoas?
A.R.C. - Quando eu estava preso na Febem, eles mexeram com minha mulher. Quando saí de lá, fui tirar satisfação e eles falaram que iriam me matar. Então, decidi matá-los.
Folha - Como você cometeu o crime? Você estava sozinho?
A.R.C. - Eu comprei de manhã um revólver 38 com 14 munições por R$ 200 de um cara em Artur Alvim (bairro da zona leste) e à noite fui até a pensão e os cinco estavam pipando (fumando crack).
O primeiro que vi foi o Juarez, que estava saindo do quarto. Dei um tiro na cabeça dele. Entrei no quartinho e dei quatro tiros no Wagner e no Mazaropi. Os outros dois caras se esconderam e eu aproveitei para trocar as balas.
Então, descarreguei o revólver nos caras que estavam escondidos. Coloquei mais balas e voltei 'conferindo' (atirando de novo) todo mundo. No total, dei 14 tiros. Sozinho, sem ajuda de ninguém.
Folha - Você já havia matado alguém?
A.R.C. - Nunca.
Folha - O que você fez depois de cometer o crime?
A.R.C. - Saí numa boa e corri até a minha casa. Chegando lá, guardei o revólver no quintal, deitei e dormi numa boa. No dia seguinte, contei o que tinha feito para meu irmão.
Folha - Você usa drogas?
A.R.C. - Usei crack dos 12 aos 16 anos, mas já parei. Quando dei os tiros, estava de cara limpa.
Folha - Você comete crimes desde quando?
A.R.C. - Eu furto desde os 12. Comecei roubando coisas de casas, mas sem ameaçar ninguém. Em 95, comecei a assaltar usando revólver. Assaltava mercados e mansões, sempre na zona leste. Estive oito vezes na Febem e consegui fugir todas as vezes.
Folha - Você está arrependido de ter matado?
A.R.C. - Não. Eu não tinha escolha. Se não matasse, iria morrer.
Folha - O que você pretende fazer quando sair da prisão?
A.R.C. - Quero cumprir toda a pena e tentar levar uma vida normal. Essa vida de crimes não leva a nada.

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