São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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Tess promete derrubar preço de celular

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

O consórcio Tess, vencedor sub judice (sob embargo judicial) da concorrência para o serviço celular privado no interior de São Paulo, promete que vai reduzir as tarifas do celular em pelo menos 20%, além dos 15% que constavam de sua proposta ao Ministério das Comunicações.
A vitória do Tess, anunciada na sexta-feira passada, foi recebida com grande surpresa pelo mercado. Afinal, era o menor dos consórcios que disputavam o interior de São Paulo e ofereceu R$ 1,326 bilhão pela concessão, superando em R$ 98 milhões a proposta da Avantel, tida como favorita.
Embora tenha feito a maior oferta pela concessão, o Tess não tem garantia de que sairá vencedor no final. Ele foi desclassificado pela comissão de licitação e só chegou à fase de abertura das propostas graças a uma liminar do STJ (Superior Tribunal de Justiça). O Tribunal ainda não tem data marcada para o julgamento do mérito da ação.
O Tess é formado pela telefônica sueca Telia, pela Eriline Celular, de São Paulo, e pela Primav, empresa criada pela construtora paranaense C.R. Almeida.
O engenheiro José Henrique Castanheira, 53, sócio da Eriline e coordenador do consórcio Tess, sustenta que os dois sócios nacionais controlam o consórcio.
Pelas regras do edital, pelo menos 51% das ações com direito a voto das futuras operadoras de telefonia celular privado têm que estar sob controle nacional.
Castanheira conta que suas quatro filhas soltaram foguetes quando os envelopes foram abertos em Brasília, mas diz que o consórcio ainda não se considera vitorioso, pois depende da decisão final do STJ. A seguir, os principais trechos da entrevista.
*
Folha - Foi uma grande surpresa a vitória do Tess no interior de São Paulo?
José H. Castanheira - Foi uma surpresa para os outros, mas não para nós. A Telia está mais preparada para a competição do que qualquer operadora norte-americana. Ela enfrenta três concorrentes em Estocolmo e, ainda assim, domina 70% do mercado.
Folha - Surpreendeu também o fato de os senhores terem oferecido pela concessão no interior de São Paulo o mesmo preço que haviam apresentado na concorrência para a capital. Qual foi a lógica da proposta?
Castanheira - Antes de as propostas serem entregues, circulavam boatos de que um consórcio estava disposto a pagar mais de R$ 2 bilhões pela concessão na Grande São Paulo. Vimos que não seria páreo para nós, mas quisemos marcar posição e propusemos R$ 1,3 bilhão. Repetimos a proposta para o interior porque achávamos que os preços estariam em torno disso, o que, de fato, ocorreu. Ganhamos da Avantel, que era a grande favorita, por uma diferença de cerca de R$ 100 milhões.
Folha - Os senhores já fecharam a negociação com os bancos para os investimentos?
Castanheira - Na sexta-feira, quando os envelopes foram abertos, começou o assédio dos bancos interessados em marcar reunião com a gente. Está uma verdadeira loucura. Tínhamos um acerto prévio com um "pool" de bancos, mas agora temos uma oportunidade real de negócio nas mãos e queremos escolher o melhor financiamento.
Folha - Os senhores vão tomar empréstimos junto ao BNDES?
Castanheira - O BNDES nos procurou na sexta-feira querendo conversar.
Folha - Há possibilidade de o BNDES se tornar sócio do empreendimento?
Castanheira - É difícil, mas se for uma condição e se eles oferecerem uma boa contrapartida, poderemos estudar a hipótese. Em princípio, nenhum dos três sócios está querendo abrir mão de sua posição acionária.
Folha - Os senhores já têm o dinheiro para o pagamento imediato dos 40% do valor da concessão, como determina o edital?
Castanheira - Já está equacionado.
Folha - Quais os bancos que irão financiá-los?
Castanheira - São várias instituições, mas temos um contrato de sigilo e não podemos revelar seus nomes.
Folha - Comenta-se que os dois sócios nacionais poderiam não ter cacife para bancar a operação.
Castanheira - Nenhum consórcio vai pagar os investimentos só com recursos de caixa. Podemos financiar até 60% com empréstimos bancários. Além disso, o pagamento da concessão é parcelado: 40% à vista e o restante em três parcelas anuais. Cada sócio vai colocar o valor correspondente à sua participação. A Eriline, por exemplo, tem 12% do consórcio, o que significa que ela precisa dispor de R$ 20 milhões em caixa para desembolso imediato. E nós temos esse dinheiro.
Folha - Quanto o consórcio vai investir no interior de São Paulo?
Castanheira - No primeiro ano, investiremos US$ 380 milhões na infra-estrutura e US$ 100 milhões para montar a operação, mas os equipamentos serão financiados pelos fornecedores. Nossa meta é entrar em funcionamento dez meses depois de assinarmos o contrato de concessão.
Folha - Os senhores apresentaram o melhor preço na licitação, mas não têm garantia de que vão levar, pois foram desqualificados pela comissão de licitação.
Castanheira - Temos uma liminar do STJ que é muito clara. Ela diz que o consórcio não pode ser afastado do processo licitatório por detalhes meramente formais. Fomos desclassificados porque a proposta da Telia não foi traduzida no Brasil por um tradutor juramentado. Agora ficou público que nós temos a melhor proposta de preço e a decisão final será da Justiça.
Folha - Então já dão como certo que vão ganhar a questão?
Castanheira - Estamos preocupados, porque o processo não terminou, mas não pensamos na hipótese de perder.
Folha - Mas há também a ação judicial do consórcio Telet. Ele foi desqualificado, mas seu envelope continua guardado nos cofres do Ministério das Comunicações até que a Justiça julgue o mérito de sua ação. Quer dizer, eles podem ganhar na Justiça e, se tiverem um preço melhor do que o dos senhores, vencerão a licitação.
Castanheira - É uma situação realmente delicada, mas estamos convencidos de que nossa proposta é melhor.
Folha - Até seis anos atrás, o senhor era apenas um executivo da Ericsson. Hoje, é sócio de um dos negócios mais cobiçados do mundo. Poderia explicar como foi essa transformação?
Castanheira - Fui funcionário da Ericsson durante 23 anos. Em 91, eu e mais dois executivos da mesma empresa, Hugo Estrela e Daury Rodrigues, montamos nossa própria empresa, a Eriline, de instalação de sistemas de telecomunicações. Também representamos grandes fornecedores estrangeiros no país. Nosso maior ativo é a experiência. Não procurei a Telia. Ela é que me procurou, porque queria um parceiro que conhecesse profundamente o mercado de telecomunicações do Brasil.
Folha - Qual o porte de sua empresa?
Castanheira - A Eriline faturou R$ 53 milhões no ano passado e possui 310 empregados. Neste ano, esperamos faturar R$ 85 milhões.
Folha - O usuário do interior de São Paulo pode esperar uma grande queda de preços com a competição na telefonia celular?
Castanheira - No primeiro momento, os preços vão se manter mais ou menos estáveis porque ainda temos uma camada da população de alto poder aquisitivo para atender. Essa etapa vai durar um ano e, a partir daí, os preços vão cair. No segundo ano, eles devem cair pelo menos 20%.
Folha - O usuário pode esperar uma guerra de preços? As cidades do interior de São Paulo terão preços e serviços com a qualidade dos praticados na Suécia?
Castanheira - A cesta de tarifas de telefonia celular na Suécia é a menor do mundo e quando o sueco quer um celular, ele liga para a telefônica e ela manda lhe entregar o aparelho em casa, como no "disque-pizza". Isso vai acontecer também no Brasil. Como diz o prefeito da novela "A Indomada", quem viver, verá.
Folha - Mas qual é o mercado potencial do interior?
Castanheira - Pelas nossas previsões, temos mercado para mais 1 milhão de assinantes nos próximos três ou quatro anos. O número atual é de 450 mil.
Folha - Quantos assinantes a Telia possui no exterior?
Castanheira - Possui 1,8 milhão na Suécia e 500 mil em outros 11 países.
Folha - Quer dizer que o interior de São Paulo será o segundo maior mercado da Telia?
Castanheira - Sem dúvida. Esperamos que ele venha a se tornar o primeiro, no prazo de cinco anos. Na Suécia, 30% da população possui telefone celular, ou seja, o país está atendido, ao passo que o interior de São Paulo continuará crescendo.

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