São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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Cruzeiro tem bala e bola para ser campeão

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

É como no caso da reeleição de FHC: segundo os observadores, só mesmo se sobrevier um fato político novo o destino das urnas será mudado.
Transportado para o campo da bola, era o que se dizia do Cruzeiro -só deixaria de ser campeão da América se ocorresse uma tragédia, do tipo 16 de julho de 1950. Afinal, ao empatar com o Sporting Cristal, lá, e jogando melhor do que adversário, a taça, aqui no Mineirão, já estava no papo.
Pois deu-se o fato político novo com a anunciada saída do técnico Paulo Autuori, logo depois do jogo, contratado pelo Flamengo, que despenca na tabela e literalmente acende os ânimos dos seus torcedores.
E assim os mineiros entram em campo já não mais como favoritos absolutos, mesmo atuando em casa e exibindo uma equipe muito superior tecnicamente à dos peruanos. Claro, posto que a tropa se sente abalada pela perda súbita de comando.
Mesmo porque é evidente o alto grau de participação de Autuori na montagem desse time. Menos na formação do grupo ou na disposição tática, herdadas, em boa parte, de seus antecessores, e muito mais no espírito de competitividade injetado pelo técnico que sai.
Apesar disso, o Cruzeiro tem bala e bola para ser outra vez o nosso campeão da América.
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O Palmeiras, que divide a liderança com Lusa e Paraná, pega outro concorrente de peso, esta noite -o Inter, que saiu da longa sombra projetada pelo Grêmio sobre os Pampas para cumprir digna campanha no Brasileiro, estimulado pela conquista do Gaúcho.
Mas a verdade é que nem Lusa nem Paraná nem Palmeiras tampouco o Inter -como, de resto, todos os demais participantes- chegam a entusiasmar o torcedor um pouquinho mais exigente. Todos, rigorosamente todos (talvez, uma única exceção: o Vasco), vêm praticando um futebol convencional, burocrático, opaco mesmo.
E um sintoma disso está na seleção do campeonato que esta Folha exibe às segundas. Dei uma olhada, e lá estavam quatro jogadores do Criciúma, uma legião de desconhecidos caminhando celeremente para o anonimato. Fui conferir na tabela ao lado, e o Criciúma, impávido, ostenta o penúltimo lugar da competição.
Pensei: pode ser mais um desses desvios provocados pela burrice das estatísticas, ou, então, um assomo de bairrismo alucinado lá do correspondente, que carregou nas notas dos jogadores do time da sua cidade, sei lá. Quem sabe, então, o time vai mal, mas esses quatro mosqueteiros estão esmerilhando a bola, pode ser.
Concluí, porém, que não deve ser nada disso, não. Apenas, o nível da competição é tão linear, num patamar entre o ruim e o regular, que as diferenças entre os que estão embaixo e os de cima são tão mínimas que uma nota 6, por exemplo, vale por um 10.
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Pode ser que Rincón acerte, com sua técnica esmerada, esse meio-campo corintiano. Mas, com seu jeitão frio e distante de tratar a bola, sua empatia com a Fiel será um drama.
Se até o genial dr. Sócrates penou, que dirá Rincón, com a camisa do xodó Marcelinho?

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