São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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Emprego para todos

GILBERTO DIMENSTEIN

Ao entrar numa lanchonete de "fast food" em Nova York, tipo McDonalds ou Burger King, o consumidor vai se deparar com uma novidade que revoluciona o mercado de trabalho.
As lanchonetes promovem programas especiais para tirar das ruas mendigos, mães solteiras, desempregados crônicos e mesmo adolescentes que vivem na fronteira da delinquência.
Além de um salário de R$ 800 por mês, as lanchonetes dão treinamento profissional, ensinando noções de higiene, cortesia e até pontualidade.
Esses programas se disseminam nos mais variados ramos empresariais, criando um novo modelo de assistência social e emprego.
Parte-se do princípio de que misturar treinamento profissional e trabalho é o melhor, mais barato e, acima de tudo, mais digno programa para reduzir a pobreza.
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Por trás dessa experiência está a decisão do governo americano de cortar benefícios que garantem a gerações viver de pensões oficiais. Nova lei obriga que os desempregados crônicos arrumem trabalho, do contrário perdem a pensão.
Colocando em números: nos próximos quatro anos, o país tem de empregar 1,5 milhão de pessoas, a imensa maioria deles sem nenhuma qualificação, muitos viciados em drogas ou bebidas.
A alta probabilidade do fracasso mostra o tamanho do desafio de extirpar regiões necrosadas do país.
Com o desafio, aparece o lado mais interessante dos EUA. Em essência, o impulso que fez de Betinho um dos grandes personagens não apenas deste século, mas de toda a história brasileira -não se devem esperar soluções apenas do governo; a comunidade deve se envolver.
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Logo se formou um grupo de 500 grandes empresas para coordenar o programa, numa aliança com os governos municipal, estadual e federal.
É prometido um alívio fiscal para quem colocar em sua folha de pagamentos ex-mendigos, propiciando treinamento.
O fato essencial. Na terra do chamado neoliberalismo (sinceramente não sei o que significa, mas imagino que as pessoas saibam, de tanto que se repete), virou consenso que o mercado deve ter uma conexão social.
É melhor pagar R$ 800 mensais para um empregado desajeitado do que R$ 2.000 para mantê-lo na cadeia.
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PS - Por falar em treinamento profissional: desde que estou aqui, nunca li um texto tão importante sobre desperdícios em informática como o publicado mês passado. É um ensaio de 30 páginas de Todd Oppenheimmer, uma das estrelas americanas do jornalismo em novas tecnologias. Ele destrói mitos, aponta asneiras e mostra desperdícios. É uma leitura obrigatória. Por enquanto está em inglês, no endereço: www.aprendiz.com.br/

Fax: (001-212) 873-1045
E-mail gdimen@aol.com

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