São Paulo, quarta-feira, 13 de agosto de 1997
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Vicentinho na CUT

LUIZ MARINHO

A imprensa, particularmente a Folha, já está noticiando com destaque o processo de renovação da direção da CUT, no Congresso Nacional da central, com relevância para a presidência, que receberá um mandato de três anos e a séria responsabilidade de liderar a mais importante central sindical da história deste país.
A escolha cresce em importância quando levamos em conta a violência com que se abatem sobre os trabalhadores as medidas neoliberais que caracterizam o governo FHC.
O saldo é claro: são 31 meses de governo e 31 meses de agressão aos direitos conquistados por meio de duras lutas; violência diante de greves, como a dos petroleiros; arrocho nos salários; ameaça à Previdência; ataque à dignidade dos funcionários públicos; chacinas de trabalhadores rurais.
E muito fisiologismo, compra de votos para a reeleição, escândalos como o Sivam, o Proer e as negociatas das privatizações, em especial da Vale do Rio Doce. Sem falar no agravamento do desemprego e no fechamento de fábricas, que resultam da irresponsável política oficial de juros, câmbio e crédito.
Num cenário tão hostil aos trabalhadores e excluídos, a CUT desponta como um dos mais importantes instrumentos de que dispõe a sociedade brasileira para resistir ao avanço desse processo de concentração de renda, perda da soberania nacional e aviltamento das relações de trabalho.
O Concut deve ser entendido como uma oportunidade de ouro para que os 2.600 sindicatos que integram a CUT atualizem sua avaliação sobre os rumos gerais do governo FHC e reforcem o plano de mobilização, que já registra um balanço animador nos últimos meses.
Vejamos: em 14 de março, o presidente da República foi recebido com vaias e protestos no ABC; em 17 de abril, ocorreu a concentração de Brasília, para receber a histórica marcha do MST; duas semanas depois, a CUT mostrou sua energia no encontro da Alca, em Belo Horizonte; o Primeiro de Maio foi celebrado com expressivas manifestações em todo o país; por último, em 25 de julho, o país assistiu à maior mobilização nacional já ocorrida contra o atual governo.
É lógico que o Concut será palco de acirrados debates, como já faz parte de nossa tradição interna, sendo públicas e notórias as radicais diferenças de concepção e práticas sindicais que coexistem em nossa central.
Mas, saltando por cima de todas as divergências, nosso dever é sair do Concut mais unidos e bem articulados para um mandato que precisa se pautar pelo fortalecimento dos nossos sindicatos junto às bases, pela consolidação orgânica e pela lucidez para preparar campanhas e propostas criativas, atestando nossa consciência política geral e nosso compromisso com a defesa dos direitos de cidadania. E, principalmente, preparados para uma conjuntura de permanente e crescente mobilização.
O próximo período promete ser de lutas, lutas e mais lutas, conforme se pode colher do avanço sensível na disposição de combate de importantes setores da população.
A CUT tem um punhado de dirigentes sindicais aptos a assumir a missão de presidente nacional, todos plenamente capacitados para o posto.
Mas é indiscutível que, no contexto de raivoso avanço do projeto neoliberal, é fundamental que a CUT seja presidida por aquele que reúne condições especiais de liderança, seja pela experiência acumulada no comando de greves e mobilizações por quase duas décadas, seja pela reconhecida habilidade de argumentação, debate e negociação, seja pelo espírito criativo, seja pelo inegável carisma.
Enfim, pelo fato de ser visto e respeitado como um dos mais importantes líderes que a classe trabalhadora já produziu neste país ao longo de sua história.
Ao abrir mão de uma candidatura segura e confortável a deputado federal, que já era para ele uma decisão consolidada, Vicentinho deu uma séria demonstração de responsabilidade e de subordinação de suas aspirações pessoais às exigências da militância coletiva.
Sua eleição para um novo mandato garante na presidência uma figura que simboliza as raízes profundamente populares de nossa central. Representa uma equilibrada combinação entre a combatividade classista que faz a raça e a garra da CUT e uma sensibilidade que emerge como indispensável na disputa de hegemonia contra o projeto fortemente unitário que a classe dominante brasileira impõe hoje à nação.
Vicentinho na presidência da central, ao contrário de significar a CUT de um homem só, representa, mais do que qualquer outro nome, a afirmação de uma CUT que é e seguirá sendo de todos os trabalhadores brasileiros.

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