São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 1997
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Em crise, Pitta dobra verba de publicidade

ROGÉRIO GENTILE
DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar da crise financeira, o prefeito Celso Pitta dobrou a verba destinada para a publicidade da Prefeitura de São Paulo.
No Orçamento aprovado pela Câmara Municipal para o ano de 1997 previa-se gastar R$ 10 milhões com propaganda.
O prefeito Pitta fez remanejamentos nos recursos e aumentou a verba para R$ 20 milhões. Com esse dinheiro é possível construir cerca de 33 Emeis (Escolas Municipais de Educação Infantil).
O último remanejamento foi publicado na edição de ontem do "Diário Oficial do Município".
Pitta -que viajou ontem para Natal, no Rio Grande do Norte, para participar de um congresso de prefeitos- retirou R$ 5 milhões da verba prevista para construção, reforma e ampliação dos centros de abastecimento (conhecidos como "sacolões") e aplicou na publicidade.
Os gastos não incluem a publicação de editais (publicidade obrigatória sobre abertura de licitações, convocações para concursos etc.).
Para esse tipo de publicidade, a prefeitura possui uma outra dotação orçamentária de R$ 7 milhões.
Crise
A modificação foi feita em um momento delicado no caixa da Prefeitura de São Paulo.
Por causa da dívida de curto prazo (com vencimento em 1997) de cerca de R$ 1 bilhão, herdada da gestão Paulo Maluf (1993-1996), Pitta foi obrigado a paralisar obras e cortar gastos em praticamente todos os setores.
Com a crise, até mesmo áreas essenciais foram afetadas. As cooperativas do PAS (Plano de Atendimento à Saúde) passaram a receber com atrasos. E a quantidade de ônibus em circulação foi reduzida.
Pitta diz que o momento é de contenção, mas que a situação estará normalizada até outubro.
Diz também que os programas sociais não foram afetados pela crise. O atendimento no PAS, por exemplo, apesar dos atrasos nos repasses, estaria normal.
Novos remanejamentos
Desde o começo do ano, Celso Pitta já gastou, efetivamente, R$ 8,7 milhões dos R$ 20 milhões reservados pela Secretaria Municipal das Finanças.
Com o remanejamento dos recursos, o prefeito está prevendo investir mais ou menos o que foi gasto por Paulo Maluf em 1996, ano da eleição de Pitta.
No ano passado Maluf aplicou R$ 21,1 milhões em publicidade.
É possível, porém, que haja novos remanejamentos nos recursos até o final do ano.
O contrato firmado entre a prefeitura e o consórcio Futura Cidade prevê gastos de cerca de R$ 28 milhões em propaganda por ano. O contrato tem validade de dois anos e pode ser prorrogado.
O consórcio Futura Cidade, único que participou da concorrência pública feita pela prefeitura em 1996, é formado pelas agências Biondi & Associados, Duda Mendonça & Associados e Salles/DMB&B.
As duas primeiras agências são, respectivamente, dos publicitários Nelson Biondi e Duda Mendonça, responsáveis pelas campanhas eleitorais de Paulo Maluf (1992) e Celso Pitta (1996).
Duda Mendonça e Nelson Biondi foram procurados durante toda a tarde de ontem pela reportagem da Folha. Eles não responderam aos telefonemas.
Na época da licitação, em outubro de 1996, Duda Mendonça afirmou que os serviços para a campanha eleitoral e para a administração "não se misturam".
Ele participou da campanha eleitoral com outra empresa, a Nove Marketing Político, e Nelson Biondi, como pessoa física.
"Tanto a Biondi & Associados quanto a Duda Mendonça & Associados não fazem campanha política", disse, na época, Mendonça.
As duas agências atenderiam também as contas de empresas privadas e do próprio governo federal.

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