São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 1997
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A nova rebelião

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Depois das PMs, é a vez de os governadores ensaiarem a sua própria rebelião, esta contra o governo federal.
Mas, ao contrário dos policiais, que fizeram o máximo de ruído, os governadores movem-se em silêncio. Tratam de articular uma reunião para discutir o que chamam de "saída política" para as suas dificuldades.
A queixa, comum a quase todos, é a de que fizeram (bem ou mal) a lição de casa: privatizaram empresas estatais, demitiram funcionários, abriram concessões de serviços públicos para a iniciativa privada.
Em troca, em vez de ajuda do governo central, ficaram com menos receitas, seja por meio do FEF (Fundo de Estabilização Fiscal), seja por intermédio da desoneração das exportações, sangrando parte dos recursos que iam para os cofres estaduais.
O ensaio de rebelião fica bem claro nas ameaças do governador do Piauí, Francisco Morais, o "Mão Santa" (PMDB), de não entregar a estatal de energia elétrica que privatizou. Motivo: a empresa valeria três vezes mais do que o obtido na privatização, feita, aliás, sob pressão do governo federal.
Os governadores, nas conversas entre eles, retomaram o tema da autonomia fiscal. Ou seja, a possibilidade de que cada Estado decida quais impostos cobrar e com que alíquotas. Seria a única maneira de se libertarem da dependência da União.
É possível, pelos antecedentes dos governadores (atuais e antigos), que a rebelião fique no estágio em que está, mero ranger de dentes.
Mas há um eventual detonador de uma crise mais aguda: os gastos que vários Estados terão com o aumento que concederam às suas polícias, para conter a rebelião.
Se a crise já era complicada para muitos deles antes do reajuste, agora aponta para um beco sem saída, exatamente nas vésperas de começar a primeira campanha eleitoral em que podem ser candidatos à própria sucessão.

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