São Paulo, sexta-feira, 15 de agosto de 1997 |
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Terra de ninguém
ELIANE CANTANHÊDE Brasília - Orleir Cameli mereceu 32 manchetes na imprensa nacional só em 95, seu primeiro ano de governo. Exemplos: "Governador do Acre tem 4 CPFs", "Boeing do governador é preso com contrabando", "Um campeão de falcatruas na cadeira de governador".Edmundo Pinto foi assassinado em São Paulo, em 92. Era governador eleito do Acre e suspeito de desviar verbas do Canal da Maternidade. Olavo Pires foi metralhado em Porto Velho, em 90. Era senador e candidato favorito, já no segundo turno, na eleição para o governo de Rondônia. Jabes Rabelo foi cassado na Câmara por envolvimento com o narcotráfico. Nobel Moura, porque embolsara US$ 50 mil para se filiar ao PSD e aumentar o tempo do partido na TV. De quebra, dera um soco na colega Raquel Cândido (RO), dentro do plenário. A própria Raquel, aliás, foi depois cassada pela CPI do Orçamento. Os três haviam sido eleitos em Rondônia. Agora, já em 97, dois deputados do Acre renunciaram e três estão sendo processados na Câmara por vender votos pró-reeleição a R$ 200 mil. Um deles, Chicão Brígido, ainda por cima aluga o mandato e surrupia parte do salário dos funcionários. Ser político dos ex-Territórios, portanto, é mais excitante do que filme de Spielberg. E pode fazer mal à saúde, como nos casos de Pinto e Pires. A discussão simplista é sobre a legitimidade ou não de esses pequenos Estados terem três senadores e oito deputados federais. Não leva a nada. A complexa é o que fazer para anexar efetivamente à Federação essa fatia de Brasil que quase cai do mapa e é a grande esquecida das elites, das políticas federais e até da imprensa. Brasília, por exemplo, poderia exercer uma fiscalização mais rigorosa e parar de patrocinar políticos corruptos. Há jeitinho para tudo. Inclusive para repassar diretamente as verbas, ao largo de governadores. Uma flor no meio da lama, a cabocla Marina Silva cresceu descalça na mata, estudou história e hoje é senadora da República. Ela pede atenção à região e alerta: "Não pensem que só tem corrupto por lá. Ao contrário, o povo é apenas a grande vítima". Texto Anterior: A nova rebelião Próximo Texto: Betinho e Galdino Índice |
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