São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Integração da América Latina ainda é duvidosa

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O Nafta (o acordo de livre comércio da América do Norte) fez na semana passada cinco anos.
A moda dos "blocos regionais" vinha do final dos anos 80 e virou uma ideologia fácil de assimilar numa época de esgotamento da Guerra Fria. Havia o medo da "Fortaleza Europa" e o "milagre japonês" fazia muita gente acreditar na decadência econômica e mesmo tecnológica dos EUA.
A velocidade com que mudaram essas percepções é o fato mais notável do período recente. Hoje os projetos de integração continuam em pé, mas várias ilusões foram destruídas. Dois "conceitos" ou imagens ganharam mais força no período recente: o de mercados emergentes e o de globalização.
Embora o resgate financeiro do México na crise de dezembro de 1994 seja visto como um exemplo da importância do Nafta, a crise asiática das últimas semanas confirma a visão dos mais céticos.
Com ou sem integração regional, o relevante é a oposição entre países vistos como emergentes e mercados financeiros globalizados.
Reversão
O presidente do Fed (banco central dos EUA), Alan Greenspan, teve a audácia de alertar para a "exuberância irracional" da Bolsa norte-americana. Na última sexta-feira o colapso foi assustador, o maior desde o "crash" de 1987, longínquos dez anos atrás.
A questão agora é saber se, depois da perda de vigor dos modelos de "blocos regionais", a crise asiática e uma eventual reversão nas Bolsas serão fortes a ponto de tirar o charme dos "emergentes" e da globalização.
Pode ser um bom momento para leituras e reflexões. Está saindo do forno, sob o patrocínio do Centro de Excelência Bancária da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas, "Instabilidade e Criatividade nos Mercados Financeiros Internacionais: Condições de Inserção dos Países do Grupo da América Latina".
Na origem uma tese de doutorado de Maria Lúcia L. M. Pádua Lima, professora da FGV-SP, o trabalho examina minuciosamente o processo de inovações financeiras que marcou a globalização recente, assim como os sistemas de avaliação de riscos usados pelas instituições financeiras.
A conclusão não é das mais animadoras: "As condições de inserção e permanência dos países do grupo da América Latina nos Mercados Financeiros Internacionais estão longe de serem estáveis, duradouras e demais sinônimos que se possam encontrar."
E volta o tema da reversão, tão caro a quem observa com seriedade os mercados financeiros: "Falar que as avaliações (a respeito desses países) têm um caráter ciclotímico é pouco. O que mais preocupa é a aparente falta de critérios objetivos para se saltar da euforia ao desânimo."
Entre os economistas a busca de critérios objetivos é incansável. Há poucos dias Celso Pinto citava John Welsh, do Paribas, que descarta uma crise no Brasil porque a relação entre reservas e agregados monetários não preocupa. Outros discutem se a crise surge com um déficit em conta corrente de 3%, 5% ou 8% do PIB.
Em geral, a reversão de expectativas costuma ser violenta e irracional, transformando em história os mais exuberantes modelos de integração e de globalização.

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