São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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A era da violência

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Foi-se o tempo em que as greves na Argentina eram chamadas de greves "materas", porque o pessoal ficava em casa tomando mate (chimarrão, no Rio Grande do Sul), um esporte nacional.
Mesmo durante a ditadura militar de 76 a 83, uma das mais hediondas da história universal, a ordem de greve era acatada maciçamente sem que fosse necessário pôr na rua um único piquete ou adotar qualquer ação que paralisasse o transporte, providência essencial para o êxito de um movimento grevista.
Agora, na greve geral de sexta-feira, a violência foi a norma. Mais de cem ônibus foram destruídos ou danificados, sem contar os inúmeros incidentes nas Províncias, os Estados argentinos.
Antes, também havia violência, até muito maior, mas era quase um monopólio da repressão.
Não é um problema restrito à Argentina. A violência, como instrumento de ação política, está se generalizando. Antes, tomava a forma de luta armada, conduzida por grupos empurrados à clandestinidade pela supressão dos mecanismos democráticos.
Hoje, não. A democracia, talvez pela primeira vez na história, vigora em toda a América Latina, com exceção de Cuba e de manchas aqui e ali, incapazes de desfazer o panorama geral de vigência das liberdades públicas.
Por que, então, a violência? Os governistas, na Argentina como em outros países, dirão que é culpa de uma oposição que não tem propostas e, por isso, não arrebanha seguidores. Recorre, então, à violência para ganhar visibilidade.
A oposição, em toda parte, responderá que a violência é fruto do desespero provocado pelas políticas econômicas neoliberais, hoje hegemônicas, com a carga de exclusão que carregam ou acentuam.
Há um pouco de verdade em cada argumento. Pena que cada lado só aceite o seu como válido, o que é prenúncio de mais violência pela frente.

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