São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Três dias em branco

O eletricista Valdir de Jesus tinha 15 anos e se preparava para viajar com um casal de amigos para o interior de São Paulo. No caminho para a rodoviária, desceu do ônibus sem que os amigos percebessem e sumiu. Durante três dias, acha que ficou vagando pela cidade -ele não se lembra de nada.
Só sabe que despertou em uma praça sem saber onde estava, vestindo uma blusa, casaco e sapatos que não eram seus. "Fiquei perdido. Provavelmente, dormi nas ruas. Depois, parece que uma espécie de flash bateu no meu rosto e eu acordei, minha memória veio à tona. Fiquei desesperado e pensei: 'Onde estou? Será que estou no interior? Onde estão meus amigos?'. Então, vi um ônibus que passava perto da minha casa, subi e pedi para o motorista me ajudar", conta Valdir, 38.
A notícia de que Valdir tinha desaparecido provocou pânico na família. "Acionamos a polícia, procuramos nas casas de todos os amigos, fomos até Santos, onde tínhamos um apartamento, para ver se meu filho estava por lá. No domingo, quando ele chegou em casa, batendo na porta e pedindo guaraná, foi a maior alegria", conta Rosa de Jesus.
A falta de memória súbita de Valdir -uma amnésia transitória- tem uma explicação. Quando tinha apenas seis meses, Valdir caiu de uma altura de meio metro e bateu a cabeça. O médico não constatou nenhuma lesão cerebral, mas Rosa conta que Valdir tinha algumas crises. "Estávamos andando na rua, ele soltava da minha mão, ficava parado e urinava. Na escolinha, ele não conseguia se adaptar", afirma a mãe.
Após os seis anos, foi constatado que Valdir sofria de um distúrbio vascular no cérebro. "Ele começou a fazer um tratamento e não teve mais crises. No dia da viagem, ele tinha dormido muito pouco e, provavelmente, a dosagem do remédio estava baixa", diz Rosa.
Com a ajuda de remédios, Valdir não tem mais crises, nem amnésias. Mas daqueles três dias, inesquecíveis para a sua mãe, ele nunca se lembrará.

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