São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Depressão e esquecimento

Depois de mais de 30 anos de casada, o marido de Ivete da Cunha Gõpfert, 67, pediu a separação. Na mesma época, a enfermeira estava se aposentando. A soma dos dois infortúnios resultou em uma depressão, que persistiu por três anos.
Aos poucos, ela tornou-se absolutamente dependente dos filhos. Não conseguia ir ao banco sozinha, muito menos decorar sua senha. Comprava um par de sapatos e, dois meses depois, comprava o mesmo par. Ia à padaria e, quando chegava lá, não sabia mais o que tinha ido comprar. Esquecia frequentemente a porta aberta, o gás ou o fogo ligado.
Para ir ao médico fazer exames habituais, precisava da companhia dos filhos, porque não conseguia guardar de quanto em quanto tempo deveria tomar os remédios receitados.
"Eu levava uma vida rotineira e pegava sempre o mesmo ônibus. Mas, às vezes, quando o ônibus parava no ponto, eu não sabia se estava indo ou voltando", conta Ivete.
O quadro só começou a reverter quando Ivete decidiu procurar ajuda médica. Sua depressão foi então diagnosticada: a falta de interesse pela vida fazia com que ela não prestasse atenção no que acontecia a seu redor, o que a impedia de reter informações.
Com o tratamento, sua memória se recuperou e hoje funciona como nunca. Ivete prepara-se para ser monitora da Oficina de Memória de um grupo de Terceira Idade. Há pouco tempo, reformou sozinha o apartamento onde mora no Méier, no Rio do Janeiro.
Ivete também faz aulas de italiano e espanhol e estuda literatura brasileira na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Viaja sempre com as amigas para a Bahia e Espírito Santo, onde anda até de "banana-boat". E diz que está muito bem sozinha.
"Agora, quando meus netos querem companhia para um passeio, procuram por mim, porque me acham animada para tudo e adoram minhas piadas."

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