São Paulo, domingo, 17 de agosto de 1997
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Enxaqueca sem idade

IZABELA MOI

Doença atinge 2,5% de crianças e até 10% de pré-adolescentes
Um milhão de dias escolares são perdidos todo ano nos Estados Unidos por causa de dores de cabeça em crianças com idade para ir à escola.
"Se você perguntar a uma criança em idade escolar (até o início da adolescência) se ela teve pelo menos uma dor de cabeça no ano anterior, em torno de 70% dirão que sim", informa José Luiz Gherpelli, responsável pelo ambulatório de cefaléia infantil do Hospital das Clínicas.
Dois tipos de dores de cabeça afetam as crianças e não são sintoma de qualquer outra doença: a cefaléia tensional e a enxaqueca.
A primeira, por ser "mais fraca", quase nunca chega aos consultórios. Já a enxaqueca atinge hoje cerca de 2,5% das crianças em torno de 7 anos e 10% no início da adolescência, atrapalhando-as a ponto de fazê-las interromperem suas atividades.
A proporção é de para cada três meninas que sofrem da doença, um menino, a mesma da população adulta.
A enxaqueca não tem cura, mas pode ser mais facilmente controlada nas crianças. "Normalmente, apenas repouso e sono conseguem fazer a dor desaparecer", afirma Gherpelli. Outras vezes, um analgésico comum resolve o problema.
Dores de adulto
Bruno Muniz, 8, sofre de dores de cabeça desde os 5 anos. "Ai, eu quero morrer" ou "vou bater minha cabeça na parede para ver se a dor desaparece", eram as vontades de Bruno toda vez que era acometido pelas crises, duas vezes por semana. A mãe, a atriz Fernanda Muniz, conta que passou por vários médicos e exames até que seu neuropediatra diagnosticou a enxaqueca.
Em uma de suas crises, no meio da noite, Fernanda correu para o Pronto Atendimento em Enxaqueca, coordenado pelo médico Alexandre Feldman. Desde que começou o tratamento, a frequência das crises diminuiu para uma vez por mês.
"Percebo que quando o Bruno come alimentos muito condimentados, como salsicha, acaba tendo dores de cabeça. Mas a enxaqueca dele se origina em causas emocionais", diz a mãe.
Fernanda acha que fatores hereditários também foram determinantes. "Eu tinha dores de cabeça horríveis desde os 7 anos, que passaram na minha adolescência", lembra.
Segundo Gherpelli, fatores emocionais, como a ansiedade, exposição excessiva à luz, incluindo a do sol, alguns tipos de alimentos (chocolate e derivados de leite, por exemplo), exercícios físicos intensos ou até mesmo alimentação depois do horário habitual são detonadores da enxaqueca.
"Cada pessoa tem a sua enxaqueca. Esses fatores não são gerais, mas podem ser identificados em alguns casos. O importante é que cada um conheça a origem de sua própria dor", diz o médico.
Depois de todos os exames feitos, quando a dor de cabeça da criança é diagnosticada como enxaqueca, a melhor opção para os pais é tentarem se tranquilizar. "Em muitos casos, a segurança dos pais de que está tudo bem acaba sendo passada para a criança, e as crises de enxaqueca espaçam-se espontaneamente", afirma Gherpelli.
Um diário para marcar quando a enxaqueca aparece e tentar identificar a situação ou os fatores que poderiam tê-la ocasionado, como observa a mãe de Bruno, pode funcionar como a melhor forma de prevenção para a dor de cabeça em crianças.

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