São Paulo, domingo, 24 de agosto de 1997
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Rainha adota postura de "diplomata" do MST

EDMILSON ZANETTI
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO

EDMILSON ZANETTI; JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA AGÊNCIA FOLHA

A menos de um mês de ser julgado por duplo homicídio, o dirigente José Rainha Júnior, 36, se transformou em uma espécie de "diplomata" do MST junto ao governo federal.
A estratégia, adotada logo após a condenação a 26 anos e seis meses de prisão, alivia a imagem de "radical" de quem sempre comandou invasões de terras.
Com isso, Rainha parece apostar em maiores chances de absolvição no novo julgamento a que será submetido em Pedro Canário (ES) no próximo mês.
As ações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Pontal no Paranapanema, extremo oeste de São Paulo, na última semana, revelaram um Rainha mais disposto a apagar incêndios que derrubar cercas.
Na tentativa de fechar uma agência do Banco do Brasil em Teodoro Sampaio (710 km a oeste de São Paulo), coube ao dirigente o papel de procurar o ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) para liberar um empréstimo e evitar a invasão do banco.
Diante da ameaça do MST de atear fogo em outra agência do Banespa no município de Rosana, o comportamento não foi diferente.
Rainha esvaziou a ação ao se comprometer com os sem-terra que iria negociar com o banco.
Ao criticar a burocracia que emperra liberação de financiamentos para compra de equipamentos e plantio, ele voltou a bateria para o terceiro escalão do governo, mas isentou os principais personagens da política fundiária.
"O presidente da República e o ministro têm sinalizado com avanços políticos. A gente deu uma trégua como crédito. Agora a palavra está com o presidente."
As decisões de ações mais recentes no Pontal do Paranapanema, como duas invasões na semana passada, passaram a ser tomadas por um colegiado de 12 dirigentes, do qual ele está afastado para se dedicar à defesa do julgamento.
Rainha diz não temer, nessa nova fase, ser confundido com ações de "pelego". Ao contrário, para ele, essa nova postura significa "avanço político".
As expressões "entendimento" e "diálogo" passaram a fazer parte dos discursos recentes do líder.
"Sempre fui radical, mas sempre pelo diálogo e pelo entendimento. Só conhecem uma face minha. O diálogo é fundamental para resolver problemas", diz.
Outra faceta mostra um Rainha "pacifista", ao contrário do discurso de ruralistas ligados à UDR (União Democrática Ruralista), que prometem repelir com armas novas invasões de terras.
"Tenho procurado o diálogo para evitar que haja violência. Mas o movimento continua vivo."
Rainha diz que, após o julgamento, se for absolvido, não deve mudar seu comportamento.
"Vou continuar diplomata, em busca do diálogo, mas não vou abandonar a luta. A reforma agrária não virá de cima para baixo."

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